Bukele anuncia cerco militar à cidade salvadorenha onde policial foi assassinado
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, anunciou, nesta quarta-feira (17), que impôs um cerco militar em torno da cidade de Nueva Concepción (norte), onde um policial foi assassinado na terça-feira (16).
"Estabelecemos um cerco de segurança ao redor do município de Nueva Concepción, Chalatenango, com mais de 5.000 agentes" das Forças Armadas, e "500, da polícia", para capturar os responsáveis pelo assassinato do policial, assegurou o mandatário no Twitter.
Nessa cidade de aproximadamente 30.000 habitantes, localizada a pouco mais de 80km ao norte de San Salvador, um policial foi assassinado ontem por supostos membros de gangues, o que levou Bukele a prometer que vai "destruir" esses grupos.
Há 14 meses, o presidente salvadorenho iniciou uma "guerra" contra as gangues, devolvendo a sensação de segurança ao país.
A operação militar em Nueva Concepción começou durante a madrugada. Nela, os uniformizados revistaram casas e pediram documentos de identidade aos pedestres e a quem se deslocava em veículos e motos, segundo a imprensa local.
Os militares e policiais enviados começaram a "busca pelos responsáveis pelo homicídio e por toda a estrutura dos mafiosos e colaboradores que ainda se escondem nesse local", disse Bukele.
Os criminosos "pagarão caro pelo assassinato do nosso herói", o agente Maximino Vásquez, acrescentou.
A cruzada contra as gangues tem o apoio de nove em cada dez salvadorenhos, segundo pesquisas, mas organizações de direitos humanos e a Igreja Católica criticaram os métodos de Bukele.
O crime cometido contra o policial "é condenável", mas os cercos militares "trazem ansiedade e medo" à população inocente daquela região de Chalatenango que sofreu a brutalidade da guerra civil (1980-1992), disse o coordenador da Comissão de Direitos Humanos, Miguel Montenegro.
- Estado de exceção -
A Polícia Nacional Civil (PNC) informou que Vásquez morreu ao ser "atacado" por membros de gangues, "enquanto patrulhava com outros policiais" em Nueva Concepción.
É o quarto policial salvadorenho assassinado desde que Bukele lançou sua "guerra" contra as gangues em março de 2022 e o primeiro este ano, enquanto o país aplica um estado de exceção que autoriza prisões sem ordem judicial.
Horas depois do crime, a Assembleia Legislativa ampliou o regime de exceção vigente, que permite prisões sem mandado, principal ferramenta de Bukele em sua "guerra" contra as gangues.
Com esta prorrogação, o estado de exceção estará em vigor até 15 de junho.
O regime de exceção foi originalmente declarado pelo Parlamento, a pedido de Bukele, em resposta a uma escalada homicida que custou a vida de 87 pessoas, de 25 a 27 de março de 2022. Desde então, 68.720 supostos membros de gangues foram presos, embora cerca de 5.000 tenham sido libertados por não estarem ligados a esses grupos, segundo o governo.
Os cercos militares ao redor dos municípios têm sido uma arma recorrente de Bukele na "guerra" contra as gangues. Começaram em 3 de dezembro no município de Soyapango, na capital, e depois se espalharam para outras áreas. Em alguns casos, os militares permaneceram no local por semanas, detendo milhares de suspeitos.
Para deter integrantes de gangues, Bukele inaugurou no início de fevereiro uma "megaprisão" com capacidade para 40 mil presos, considerada a maior da América Latina.
As gangues começaram a assumir o controle territorial do país após o fim da guerra civil. O governo atribui-lhes cerca de 120.000 mortes, muito mais do que o balanço de vítimas fatais do conflito armado (75.000).
(A.Laurent--LPdF)