Jovens vãos às urnas na Guatemala entre a esperança e a dúvida
Assolados pela falta de oportunidades, a violência e a pobreza, que os leva a migrar em massa da Guatemala, os jovens oscilam entre a esperança e a dúvida sobre a eleição presidencial de domingo.
Os social-democratas Sandra Torres e Bernardo Arévalo vão se enfrentar para suceder o presidente direitista Alejandro Giammattei após uma campanha tensa, em especial pela investida do Ministério Público contra o Semilla, partido de Arévalo. Sua inesperada passagem para o segundo turno sacudiu o tabuleiro eleitoral e encorajou muitos jovens.
Guatemaltecos de 18 a 25 anos correspondem a 16% do eleitorado neste país de 18,1 milhões de habitantes, onde mais de dois terços dos trabalhadores ganham a vida informalmente e a taxa de homicídios é quase o triplo da média mundial, segundo números oficiais.
Quatro jovens, solteiros e sem filhos, falaram com a AFP sobre suas preocupações antes da votação de domingo.
- Marlen, tecelã artesanal indígena -
Marlen Monroy, de 20 anos, é uma tecelã artesanal de trajes típicos. Originária do município de San Pedro Sacatepéquez, esta indígena da etnia maya-kaqchikel diz que votará em Arévalo.
“Não é mais justo que as mesmas pessoas que têm vindo ano após ano lutando para se posicionar em um cargo e não conseguiram, ainda estejam lá. Se não ficaram, é porque definitivamente não merecem estar [governando] nosso país, e é necessário dar oportunidades a outras pessoas que realmente queiram fazer a mudança ou, pelo menos, tentar fazer algo diferente", justifica.
“Como jovens, nos baseamos muito nas redes sociais, no moderno, em nos entretermos, nos divertirmos, focarmos em nós mesmos. E, como jovens, percebemos principalmente as intenções de Arévalo”, continua.
“Acredito que muitos de nós lembramos de seu pai (o presidente reformista Juan José Arévalo, 1944-1951), que veio e fez coisas diferentes que hoje em dia nós, como cidadãos, temos”, afirmou a jovem.
- Wilson, estudante de enfermagem -
Wilson Itzep é um estudante de enfermagem de 20 anos de Chinique, na região de Quiché. Ele adianta que votará também em Arévalo.
“Nós, como jovens, esperamos que o país mude e surjam novas oportunidades para a sociedade, e que todo jovem que hoje em dia não tem um trabalho possa tê-lo devido aos novos governantes”, explica.
“Sim, houve a necessidade de emigrar pela falta de trabalho que existe no país e a pobreza [...], mas se o partido Semilla ganhar, quem sabe eu ficaria, porque para mim é uma mudança”, diz o jovem. Arévalo “é alguém que vai colocar ordem e justiça”, acrescenta.
Para Itzep, “Sandra Torres teve muitas dificuldades, se envolveu em muitas instabilidades”. Se ela vencer, “talvez eu possa emigrar [...], talvez o país possa entrar em uma crise mais do que já está”, disse.
- Carlos, entregador de água -
Carlos León ganha a vida entregando galões de água mineral na cidade de Zacaqa. Ele tem 25 anos e votará em Torres.
“A Guatemala ainda não está preparada para a inclusão e isso é o que vejo em Sandra Torres, que ela está protegendo a família, está protegendo esses valores que nos ensinaram em casa”, declara.
“Não se mexe com a família, isso é algo muito primordial. O voto evangélico vai influenciar muito.”
Ela “vai criar mais empregos, vai criar capacitações, 700 quetzales (443 reais, na cotação atual) por mês para que as crianças não abandonem a escola [...] Então bato palmas, porque uma criança com fome não guarda as coisas” que ensinam nas aulas, disse o entregador.
- Dulce, professora infantil -
Dulce Chitic, de 21 anos, é uma professora da educação infantil em uma escola de Jocotenango, município próximo à cidade turística de Antigua. Vota em Arévalo.
“Não importa quem fique [na presidência], mas que de verdade o faça de coração, que tome o tempo de pensar nos jovens que estão crescendo, que tenha ideias para os jovens”, reivindica.
Para ela, se Torres ganhar, a Guatemala “vai ficar pior do que já está agora, porque [...] já teve problemas legais anteriormente e tem ideias de antes, não ideias que se pode propor agora”.
“Tenho amigos que se foram porque dizem e acreditam que ir para outro país é melhor. Acreditam que vão crescer como pessoas, sua economia vai ficar melhor, mas creio que se mudarmos de perspectiva, aqui também será possível”, defendeu.
(V.Castillon--LPdF)