Guatemala realiza segundo turno com temores de interferência
Os guatemaltecos elegerão um novo presidente neste domingo (20) em uma votação entre dois social-democratas, em meio a tentativas de desqualificar o inesperado favorito Bernardo Arévalo, que promete lutar contra a corrupção.
Três décadas após o fim de sua brutal guerra civil, o país mais populoso da América Central está atolado em pobreza, violência e corrupção, o que leva milhares de guatemaltecos a migrarem todo ano, principalmente para os Estados Unidos.
Após a surpreendente vitória no primeiro turno, Arévalo, filho do primeiro presidente democraticamente eleito da Guatemala, Juan José Arévalo (1945-1951), busca seguir o caminho do pai com uma forte agenda social e de mudança.
"Passamos anos sendo vítimas, sendo presas, de políticos corruptos", disse ele ao encerrar sua campanha. "Votar é deixar claro que quem manda neste país é o povo da Guatemala, e não os corruptos".
Pela terceira vez consecutiva em uma eleição, sua adversária Sandra Torres, ex-esposa do ex-presidente de esquerda Álvaro Colom (2008-2012), promete ajudar os mais pobres com subsídios em dinheiro e entrega de alimentos. A direita, que governa a Guatemala há 12 anos, apoia Sandra silenciosamente.
"Bernardo Arévalo se apresenta como a opção de mudança política, e Sandra Torres é a representante da continuidade", disse à AFP o analista Arturo Matute, diretor do centro Gobernálisis.
Cerca de 9,4 milhões de guatemaltecos poderão eleger o sucessor do presidente direitista Alejandro Giammattei, reprovado por 62% dos cidadãos, de acordo com uma pesquisa recente.
Arévalo, um sociólogo de 64 anos que desperta temores entre a elite poderosa da Guatemala, é o líder do partido Movimiento Semilla, que criou em 2017.
O Semilla é alvo de uma cruzada do Ministério Público, que o acusa de irregularidades em sua inscrição em 2017 e 2018.
As ações do MP são vistas como uma tentativa de impedir que chegue ao poder. Na quinta-feira, o promotor Rafael Curruchiche declarou que, após a eleição de domingo, não descarta buscas, prisões, ou suspensão de privilégios de membros do Semilla.
O chefe do Departamento de Estado para a América Latina, Brian Nichols, disse esperar que a votação seja pacífica e transparente. E lembrou que "o verdadeiro poder da democracia está no respeito à vontade do povo".
Em um país fortemente conservador e religioso, nem Arévalo nem Torres promovem a legalização do casamento homoafetivo, ou do aborto, permitido apenas se houver risco para a mãe.
No primeiro turno, em 25 de junho, 60% do eleitorado votou, mas a participação tradicionalmente diminui no segundo turno, já que não há eleições locais, ou legislativas.
Os quase 3.500 centros de votação abrirão às 7h locais (10h no horário de Brasília) e fecharão às 18h (21h em Brasília). Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos em torno de três horas depois.
Também haverá votação para prefeitos e vereadores em cinco municípios onde a eleição foi suspensa no primeiro turno, devido a tumultos.
O novo presidente tomará posse em 14 de janeiro de 2024.
(F.Bonnet--LPdF)