Milicianos incendeiam ônibus no Rio de Janeiro após operação policial
Milicianos incendiaram, nesta segunda-feira (23), mais de 30 ônibus e a cabine de um trem no Rio de Janeiro, em protesto contra uma operação policial que matou um dos seus membros, um ato que forçou a suspensão do transporte público e parou o trânsito.
Policiais prenderam 12 suspeitos de "ações terroristas" e a Prefeitura decretou estágio de atenção, o terceiro nível de alerta em uma escala que vai até cinco.
O governador Claudio Castro disse, durante coletiva de imprensa, que o incêndio dos ônibus foi uma resposta de grupos criminosos, depois que as forças policiais acertaram "um duro golpe em uma das maiores milícias da zona oeste" da cidade.
A operação terminou na morte de Faustão, sobrinho e "braço direito" de Zinho, suposto chefe da milícia na zona oeste do Rio. Segundo Castro, Faustão "era conhecido como 'senhor da guerra', responsável pela guerra da facção e pela união entre o tráfico e a milícia, criando as narcomilícias".
- 'Máfias nacionais' -
No meio da tarde, os criminosos começaram a atear fogo em coletivos, segundo as autoridades.
Foi o dia com mais ônibus queimados na história do Rio de Janeiro, informou à AFP a Rio Ônibus, o sindicato das empresas de ônibus da cidade, que contabilizou um total de 35 veículos incendiados.
A Supervia, operadora de trens urbanos do estado, confirmou à AFP que criminosos atearam fogo à cabine de um trem.
Segundo o governador, o incêndio de coletivos foi uma resposta da criminalidade à ação do poder público.
Castro alertou o crime organizado a não desafiar o Estado e prometeu continuar combatendo as milícias no Rio de Janeiro. Mas deu a entender que o problema é maior e extrapola as fronteiras do estado, ao afirmar que estas "organizações são verdadeiras máfias nacionais".
"O problema da segurança pública e muito maior que o Rio de Janeiro [...] É problema do Brasil inteiro", disse.
A Prefeitura decretou estágio de atenção devido a "ocorrências de alto impacto" na infraestrutura e na logística da cidade, que afetaram a população.
Segundo o prefeito Eduardo Paes, o serviço de transporte foi interrompido na densamente povoada zona oeste da cidade.
"Quando o sujeito, além de bandido, é burro. Milicianos da zona oeste queimam ônibus públicos pagos com dinheiro público para protestar contra a operação policial", publicou o prefeito no X, o antigo Twitter.
Filas de carros passavam ao longo das carcaças chamuscadas dos ônibus, à medida que os moradores retornavam para casa.
A Avenida Brasil, importante ligação entre a periferia e o centro da cidade, chegou a fechar, com um ônibus atravessado na pista, segundo imagens exibidas na mídia.
Integradas em grande parte por ex-membros das forças policiais, as milícias surgiram como uma alternativa à luta contra o tráfico de drogas.
Mas foram se expandindo até dominar vastos territórios da cidade à base de extorsões, venda ilegal de serviços como segurança, gás, transporte e internet.
Atualmente, milícias armadas e traficantes disputam territórios para o tráfico de drogas na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
(A.Laurent--LPdF)