Sánchez defende anistia na Catalunha, crucial para obter novo mandato na Espanha
O socialista Pedro Sánchez defendeu, nesta quarta-feira (15), a anistia acordada com os separatistas catalães em troca de seu apoio para tomar posse para mais um mandato como primeiro-ministro da Espanha.
"Priorizamos o reencontro à vingança. Em suma, a unidade à fratura", disse o líder socialista, no poder desde 2018, durante um discurso no Congresso dos Deputados.
A futura lei de anistia, que pretende virar a página da tentativa de secessão da Catalunha em 2017, "beneficiará muitas pessoas, líderes políticos, cujas ideias não compartilho e cujas ações rejeito", admitiu Sánchez.
Mas é "necessária" para fechar as feridas abertas por essa "crise política, da qual ninguém pode se orgulhar", continuou diante dos deputados, ressaltando que pretende garantir "a unidade da Espanha pela via do diálogo e do perdão".
Durante seu discurso, que durou uma hora e 45 minutos, o socialista defendeu a constitucionalidade da medida, à qual se opunha no passado, e pediu à oposição de direita - que, no último domingo, mobilizou centenas de milhares de pessoas contra ela - que mostre "responsabilidade".
"O problema do Partido Popular" (PP, direita) e do Vox (extrema direita) "não é a anistia para os dirigentes do 'procés', o problema (...) é que não aceitam o resultado eleitoral" de 23 de julho, afirmou Sánchez, cuja votação de posse está marcada para quinta-feira.
- Maioria absoluta -
Sánchez, que ficou em segundo lugar, atrás do conservador Alberto Núñez Feijóo, nas eleições legislativas de julho, tem agora o apoio necessário para continuar no poder. Ao contrário do líder da direita, que não conseguiu os votos para ser empossado, o líder socialista, conhecido por sua capacidade de sobrevivência política, obteve o apoio de vários partidos nas últimas semanas.
Sánchez continua a contar com os votos da esquerda radical, com a qual governa há três anos, depois de se comprometer a aumentar novamente o salário mínimo e a reduzir a duração da semana de trabalho de 40 para 37,5 horas.
O socialista de 51 anos também ganhou o apoio dos partidos bascos PNV e Bildu, assim como dos grupos separatistas catalães, Juntos pela Catalunha (Junts), partido de Carles Puigdemont, e da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).
Ele tem garantidos 179 votos a favor do total de 350 deputados do Congresso, três acima da maioria absoluta necessária para tomar posse.
Exigida, entre outros, por Puigdemont, que fugiu para a Bélgica em 2017 para escapar da Justiça espanhola, a medida da anistia despertou uma forte divisão na sociedade e levanta dúvidas sobre a capacidade de Sánchez governar com tranquilidade.
- Vox compara Sánchez a Hitler ou Chávez -
Nos últimos dez dias foram organizadas manifestações diárias lideradas pela extrema direita diante da sede do Partido Socialista, em Madri, atos que, por vezes, resultaram em episódios de violência.
O PP e o Vox, que têm convocado uma "resistência" ao novo governo, pretendem multiplicar os recursos judiciais contra a anistia.
"Querem uma Espanha resignada e silenciosa, mas não vão conseguir", prometeu o líder conservador Núñez Feijóo em seu discurso na sessão de investidura, prevendo que "a anistia não vai melhorar a convivência".
Feijóo acusou Sánchez de "corrupção política", porque, argumentou, "tomar decisões contra o interesse geral em troca de benefícios pessoais não tem outro nome".
O líder do partido de extrema direita Vox, Santiago Abascal, acusou Sánchez de dar "um golpe de Estado" e comparou-o a Hitler, ou aos presidentes venezuelanos Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
"Vão disfarçar esse golpe com a roupagem da legalidade, nem sequer inventarão algo novo. Da mesma forma, com aparências de legalidade, chegaram ao poder personagens nefastos como Hugo Chávez, Maduro, ou Hitler", afirmou, antes de ser chamado à ordem pela presidente do Congresso.
Devido à tensão a respeito da posse, mais de 1.600 policiais - segundo o Ministério do Interior - foram posicionados ao redor do Parlamento, um dispositivo equivalente ao de uma partida de futebol de alto risco.
Sánchez "está vendendo a Espanha" para os separatistas catalães, opinou Belén Valdez, um manifestante envolto em uma bandeira espanhola, junto com algumas dezenas de pessoas situadas atrás do cordão policial estabelecido a uma considerável distância do Congresso.
(N.Lambert--LPdF)