Drama de Crépol impulsiona extrema direita em ascensão na França
O assassinato de um jovem de 16 anos em Crépol, uma pequena comunidade rural na França, libertou os fantasmas de uma extrema direita em ascensão, obrigando o governo a pedir calma em um contexto tenso, similar ao da Irlanda.
Thomas perdeu a vida em meados de novembro durante uma briga que começou quando jovens armados tentaram invadir uma festa. Rapidamente, grupos de extrema direita relacionaram sua morte à imigração.
No último fim de semana, facções de extrema direita organizaram passeatas na França, uma delas reuniu cerca de 80 pessoas em um bairro pobre de Romans-sur-Isère (sudeste), cidade próxima a Crépol e onde suspeita-se que vivem os jovens envolvidos na briga.
"Cabe à Justiça fazer justiça. Não aos próprios franceses", assegurou nesta segunda-feira o porta-voz do governo, Olivier Véran, que criticou estes grupos de extrema direita movidos "pelo ódio e ressentimento".
A situação recorda a vivida na Irlanda na semana passada, quando grupos de extrema direita, segundo a polícia, provocaram distúrbios em Dublin após um ataque a faca contra crianças na saída de uma escola.
Os rumores sobre uma suposta condição de imigrante dos autores, nunca confirmados pelas autoridades, impulsionaram ações da extrema direita, antes de uma investigação judicial.
"Há semelhanças nos métodos utilizados", afirma Romain Fargier, especialista em extrema direita na internet, que destaca a "forte mobilização nas redes sociais", inspirada no "Alt-right americano".
A conta "Active Club France", no Telegram, com quase 6.000 membros e inspirada em supremacistas brancos americanos, publicou nos últimos dias mensagens sobre a Irlanda, Crépol e inclusive de apoio aos protestos na Espanha contra uma lei de anistia para independentistas catalães.
Segundo um recente relatório parlamentar, o movimento identitário francês reúne cerca de 3.300 pessoas, entre elas 1.300 que estariam fichadas por autoridades pela possível periculosidade de suas ações.
- "Clima muito favorável" -
Os especialistas consultados pela AFP consideram que o movimento de extrema direita, assim como os partidos de extrema direita em posição de força nas pesquisas eleitorais, buscam instrumentalizar este fato dramático, que não seria o primeiro.
Os pais de Lola, uma menina de 12 anos brutalmente assassinada em Paris em outubro de 2022 por uma argelina em situação irregular e com possíveis problemas mentais, tiveram que pedir que deixassem de usar sua imagem com fins políticos.
Entre esses dois casos, "os distúrbios provocados após a morte de Nahel, de ascendência argelina, influenciaram os espíritos da direita e da extrema direita francesa", indica Arsenio Cuenca, pesquisador e doutorando na École Pratique des Hautes Études (EPHE).
A morte deste jovem de 17 anos, por um disparo à queima-roupa da polícia durante uma blitz de trânsito perto de Paris, em 27 de junho, provocou nove noites de distúrbios. Os partidos de extrema direita e de direita pediram que o governo agisse com rigor contra os manifestantes, muitos deles jovens.
Há "um clima muito favorável para este tipo de ações violentas" de extrema direita, com ideias completamente "banalizadas" como "o racismo contra brancos", aponta Cuenca.
Nesta terça, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, defendeu na rádio France Inter a "firme" reação das autoridades no fim de semana para evitar um "cenário de pequena guerra civil" e anunciou sua intenção de dissolver três grupos de extrema direita.
Seis pessoas foram condenadas na segunda-feira a até 10 meses de prisão por participar de um grupo formado com o objetivo de "preparar atos violentos" em Romans-sur-Isère. Outras nove foram detidas por pintar suásticas em Paris.
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(R.Lavigne--LPdF)