Executivo e Justiça da Espanha divergem sobre convocação de Sánchez a depor
O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, mostrou-se nesta quarta-feira (24) disposto a depor no caso contra a sua esposa Begoña Gómez por suposto tráfico de influência, mas apenas por escrito e não pessoalmente, como exige o juiz.
A investigação contra Gómez, que o Executivo chama de "causa política encorajada pela direita e pela extrema direita" para "corroer o Governo progressista", voltou a tomar conta do debate político na Espanha, onde a oposição de direita pede a renúncia do chefe do Executivo.
Em uma carta oficial enviada nesta quarta-feira ao juiz Juan Carlos Peinado, encarregado da investigação em um tribunal de Madri, o presidente socialista, que sempre defendeu a inocência da mulher, manifestou a vontade de "colaborar" com a Justiça.
Mas destacou que enquanto presidente do Governo a sua "declaração deve ser apresentada por escrito".
Na sua intimação, conhecida na última segunda-feira, Peinado indicou que tomaria o depoimento de Sánchez na qualidade de marido da investigada e não de chefe do Executivo, e que, portanto, ele teria de fazê-lo pessoalmente, na manhã da próxima terça-feira no palácio da Moncloa, sede do Governo.
"É notório que o meu comparecimento é indissociável da condição de presidente do Governo", refutou Sánchez no seu escrito, que estimou que o juiz "compartilhará a necessidade do máximo respeito" pelo que "está estabelecido na lei (...) em relação à instituição do presidente do Governo".
"O presidente do Governo é presidente do Governo 24 horas por dia, sete dias por semana", portanto se "tiver que depor", a "única forma possível, de acordo com o ordenamento jurídico, não é outra senão por escrito", apoiou o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, também magistrado, em coletiva de imprensa.
- "Subterfúgios" -
O juiz Peinado, que em sua intimação disse que pretendia gravar o depoimento, deve agora responder ao escrito de Sánchez.
A defesa de Gómez recorreu da convocação de Sánchez para depor, assim como o Ministério Público, que questionou a sua "utilidade" e "relevância", principalmente devido ao fato de na Espanha nenhuma pessoa ser obrigada a depor contra o seu cônjuge.
A oposição de direita foi rápida em criticar o pedido de Sánchez para depor por escrito, chamando-o de mais um dos seus "subterfúgios" para evitar dar explicações públicas.
"É evidente que se Pedro Sánchez estivesse tão convencido da inocência da sua mulher (…) apareceria publicamente e daria conta de tudo o que aconteceu", disse na rede Telecinco Miguel Tellado, porta-voz parlamentar do conservador Partido Popular, o principal partido da oposição.
Gómez, especializada na arrecadação de fundos, especialmente para fundações e ONGs, é suspeita de ter aproveitado a posição do marido nas suas relações profissionais, particularmente com Juan Carlos Barrabés, empresário espanhol que obteve ajudas públicas e que também está sendo investigado.
(C.Fournier--LPdF)