Investigadores da ONU denunciam crimes do Exército de Mianmar
Mianmar enfrenta uma escalada de crimes de guerra e contra a humanidade cometidos pelo Exército, alertaram investigadores da ONU nesta terça-feira(13), denunciando torturas sistemáticas, estupros coletivos e violência contra crianças.
O Mecanismo de Investigação Independente para Mianmar disse que mais de três milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas nos últimos seis meses.
"Recolhemos provas substanciais de níveis horríveis de brutalidade e desumanidade em Mianmar", disse Nicholas Koumjian, diretor do órgão.
O relatório, que abrange o período de 1º de julho de 2023 a 30 de junho de 2024, observa que o conflito birmanês "se intensificou substancialmente" no período.
Os investigadores afirmam que as provas indicam ataques aéreos contra escolas, locais de culto e hospitais, sem qualquer alvo militar aparente. Também citaram mutilações de detidos, com decapitações e exibições pública de corpos desfigurados ou sexualmente mutilados.
A equipe também investiga prisões ilegais e "julgamentos arbitrários" de opositores. "Milhares de pessoas foram detidas e muitas foram torturadas ou morreram na prisão", acrescenta o documento.
- Estupros e queimaduras -
A junta tomou o poder em 1º de fevereiro de 2021, após um golpe que depôs o governo eleito de Aung San Suu Kyi, colocando fim a uma experiência democrática de 10 anos.
Grupos étnicos rebeldes e forças pró-democracia são duramente reprimidos com "tortura sistemática" contra dissidentes detidos.
Os métodos incluem espancamentos com varas de bambu, choques elétricos, retirada de unhas com alicates, banhar prisioneiros em óleo antes de incendiá-los, afogamentos, estrangulamentos e quebra de dedos.
O relatório indica que existem provas confiáveis de crimes sexuais contra os detidos, inclusive menores. Os crimes incluem estupro, queima de órgãos sexuais com cigarros e humilhação sexual.
- Provas contra os agressores -
O mecanismo de investigação foi criado em 2018 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para recolher provas dos crimes internacionais mais graves e preparar a acusação dos responsáveis. A equipe analisou materiais como vídeos, imagens geoespaciais e elementos periciais.
A maioria dos crimes documentados teria sido cometido por autoridades, mas o grupo indicou que também há provas concretas de crimes cometidos por grupos armados que lutam contra os militares.
"Isto inclui execuções sumárias de civis suspeitos de serem informantes ou colaboradores dos militares", diz o relatório.
Também há uma investigação sobre possíveis crimes cometidos contra a minoria rohingya.
"Ninguém foi responsabilizado por qualquer crime, o que fortalece os agressores e aprofunda a cultura de impunidade no país. Tentamos quebrar este ciclo", disse Koumjian.
(R.Dupont--LPdF)