Esquerda espanhola sofre duro golpe com escândalo de violência sexual
A esquerda radical espanhola, parte da coalizão de governo do socialista Pedro Sánchez, foi duramente atingida por um escândalo de violência sexual que levou à renúncia de uma de suas figuras mais conhecidas.
Mas o assunto abala os progressistas como um todo, pois toca diretamente no que tem sido seu principal campo de batalha durante anos: a luta pela igualdade entre mulheres e homens e contra a violência de gênero.
Além disso, o escândalo explode em um momento de dificuldade para o governo de Sánchez, que enfrenta dois casos de corrupção envolvendo sua esposa e um ex-ministro que era seu homem de confiança.
O caso veio à tona na quinta-feira (24), quando Íñigo Errejón, até então porta-voz no Congresso dos Deputados da Sumar, a plataforma de esquerda radical que até junho foi liderada pela ministra do Trabalho, a comunista Yolanda Díaz, anunciou que abandonava todos os seus cargos e se retirava da política.
Errejón anunciou a decisão em uma carta divulgada na rede social X, na qual, sem reconhecer fatos precisos nem pedir desculpas, se limitou a admitir "erros".
- "Verdadeiro monstro" -
Na segunda-feira, a jornalista e escritora feminista Cristina Fallarás publicou em sua conta no Instagram o testemunho anônimo de uma mulher que denunciava, sem identificá-lo, "um político que vive em Madri, um político muito conhecido", que ela qualificou de "abusador psicológico" e "verdadeiro psicopata", que com "seus ares de pessoa normal" esconde "um verdadeiro monstro".
Cofundador do Podemos em 2014 junto a Pablo Iglesias, que anos depois o expulsou do partido, Errejón, doutor em ciências políticas, lançou posteriormente o Más Madrid, uma formação que se uniu à Sumar no ano passado.
Na quinta-feira à noite, a mulher cujo testemunho provocou a queda do político, uma atriz e apresentadora de televisão, anunciou no X que havia sido "vítima de assédio sexual por parte de Íñigo Errejón" e que havia apresentado uma denúncia à polícia, que enviou o caso aos tribunais.
Segundo a denúncia, consultada pela AFP, os ataques remontam a setembro de 2021.
Errejón renunciou para evitar a expulsão de seu partido e da Sumar, segundo a imprensa espanhola.
Em visita à Colômbia, a ministra Yolanda Díaz se solidarizou imediatamente com as vítimas de agressões sexuais.
Já a oposição de direita aproveitou para atacar a esquerda, denunciando seu "feminismo hipócrita" e exigindo saber quem estava ciente do comportamento de Errejón e desde quando.
Um sinal do impacto do escândalo: Pedro Sánchez, que costuma afirmar que seu governo é o "mais feminista" da história do país, escreveu no X, na noite de quinta-feira, que sua administração "trabalha por uma Espanha feminista onde as mulheres tenham os mesmos direitos (...) que os homens" e mostrou todo seu "apoio às mulheres que sofrem assédio e abusos".
(A.Laurent--LPdF)