Tucker Carlson, uma voz radical para os americanos brancos e preocupados
Programa após programa, Tucker Carlson foi se tornando uma das vozes mais influentes para os conservadores americanos. O icônico apresentador da Fox News que deixará a emissora foi acusado de popularizar teorias da conspiração e racistas.
No "Tucker Carlson Tonight", no ar desde 2016 e um dos programas de maior audiência da TV a cabo nos Estados Unidos, o apresentador, de terno e gravata, pintava o retrato de um país sob ataque: pela imigração desenfreada, pelos protestos do movimento Black Lives Matter ou até pela própria Justiça.
Com seus olhos azuis fixos diretamente nos telespectadores, cinco noites por semana e durante uma hora, ele comentava as notícias com um tom muito pessoal e afirmações como "os homens americanos estão em uma posição muito delicada", ou que "o racismo antibranco está explodindo em todo o país."
Contrário ao aborto e grande defensor do direito ao porte de arma, este apresentador pró-Trump, de 53 anos, nunca hesitou em expor suas opiniões em um programa que, em seu site, afirma ser "o inimigo jurado da mentira".
Após seus recentes problemas com a justiça nova-iorquina, foi para Carlson que Trump concedeu sua primeira entrevista, em 11 de abril.
- 'Grande Substituição' -
De acordo com seus críticos, o apresentador apostava no medo para ganhar espectadores e acabou se perdendo na própria estratégia.
Em maio de 2022, um massacre racista chocou Buffalo, no estado de Nova York. O responsável pelo ataque foi um jovem supremacista branco acusado de tentar matar a maior quantidade possível de afro-americanos, após deixar-se influenciar pela teoria da "Grande Substituição" de Carlson, uma ideologia de extrema direita segundo a qual a população branca será substituída por uma população imigrante.
Em seu programa, Carlson mencionou centenas de vezes a ideia de que os brancos estavam sendo substituídos por outros grupos étnicos, segundo uma recontagem do The New York Times.
Retomando esses números, o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, denunciou "um veneno difundido por um dos maiores meios de comunicação do país".
- Diversidade de opiniões -
Apesar das dificuldades, a Fox News apoiou a todo custo seu principal astro, argumentando sobre a diversidade de opiniões que Carlson representava. Até esta segunda-feira.
Tudo indica que o acordo milionário que a Fox News teve que pagar para evitar um processo por difamação nas eleições presidenciais de 2020 foi a gota d'água.
Em 18 de abril, a Fox News assinou um acordo de 787,5 milhões de dólares (cerca de R$ 3,9 bilhões na cotação da época) com a fabricante de urnas eletrônicas Dominion Voting Systems, que havia processado a emissora por difamação.
A Dominion havia apresentado a ação alegando que, no programa de Carlson, foram feitas afirmações falsas de que suas máquinas foram usadas para roubar a eleição presidencial de 2020 de Trump contra o democrata Joe Biden.
- Inabalável -
Impermeável a críticas, em uma entrevista de setembro de 2022, Carlson, pai de quatro filhos, disse: "Você só deve se importar com a opinião dos que se preocupam com você."
Ao que tudo indica, é uma lição que Carlson aprendeu em sua "infância rara", marcada pelo abandono da mãe, uma artista plástica, quando ele mal tinha seis anos. Ela se estabelece na França e nunca mais volta para ver os filhos.
Criado pelo pai jornalista, Carlson seguiu seus passos para se formar na universidade, após tentar, sem sucesso, ingressar na CIA, a agência de inteligência dos EUA.
Mas o caminho até a glória foi longo para Carlson. Trabalhou para a CNN e esteve temporariamente desempregado quando tinha cerca de 40 anos. Ele afirma nunca ter tido uma televisão em casa e vive longe do coração político dos Estados Unidos, em uma região rural do Maine (nordeste). É de lá que ele grava seu programa, em um estúdio montado só para ele.
A questão agora é saber se sua próxima aposta será a política. Durante um tempo, circularam rumores de uma possível candidatura às eleições presidenciais de 2024.
Mas, em junho de 2022, Carlson descartou a ideia durante uma participação no podcast conservador "Ruthless": "Sou um apresentador de um programa de entrevistas, é isso que amo."
(A.Renaud--LPdF)