'Fomos enganados pelos estúdios', diz líder do sindicato de atores de Hollywood
Os atores de Hollywood foram "enganados" pelos estúdios para prolongar por duas semanas as negociações sobre a greve, já que essas empresas queriam mais tempo para promover seus filmes de verão, denunciou a presidente do sindicato da categoria, Fran Drescher, em entrevista à AFP na quinta-feira (13).
O Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) adiou no mês passado o prazo inicial para a greve, na esperança de chegar a um acordo com empresas como Netflix e Disney sobre demandas por melhores salários e mais proteção contra a Inteligência Artificial.
A prorrogação não trouxe qualquer avanço nas negociações, encerradas na noite de quarta-feira, com a convocação de uma greve a partir da meia-noite de quinta-feira (4h de sexta-feira em Brasília). O sindicato representa cerca de 160.000 artistas.
"Nós, de boa fé, demos a eles uma extensão, na esperança que pudessem fazer gestões profundas e tivéssemos realmente algo a discutir", disse Drescher, estrela e cocriadora da série dos anos 1990 "The Nanny", à AFP.
"Mas eles nos enganaram. Ficaram a portas fechadas, cancelaram nossas reuniões, perdendo tempo", criticou.
"Provavelmente tudo isso foi para ter mais espaço para promover seus filmes de verão, porque nada que fosse significativo saiu disso", acrescentou ela.
Durante esse período de duas semanas, houve grandes lançamentos mundiais, como "Barbie", da Warner; "Oppenheimer"; da Universal; e "Missão Impossível 7: Acerto de contas Parte 1", da Paramount.
As regras do SAG-AFTRA impedem que os atores promovam seus filmes e programas durante uma greve.
Se a paralisação tivesse começado antes, estrelas como Tom Cruise, Margot Robbie e Ryan Gosling não poderiam participar de eventos no tapete vermelho, uma ferramenta crucial dos estúdios para conseguir publicidade e, com sorte, maiores bilheterias.
Os tapetes vermelhos programados para as próximas semanas estão sendo cancelados, como "Operação Lioness", da Paramount, ou reduzidos, como "Mansão mal-assombrada", da Disney.
"Na verdade, me surpreendeu. Mas acho que posso ter sido ingênua, porque esta foi minha primeira grande negociação", afirmou Drescher, eleita presidente do SAG-AFTRA em 2021.
"Eu realmente pensei que poderíamos chegar a um consenso. Que conseguiriam ver como esse novo modelo de negócios foi drasticamente imposto a toda a indústria", disse ela, referindo-se às mudanças trazidas pelo "streaming".
Uma das principais reclamações dos atores se refere à redução dos pagamentos conhecidos como residuais.
As quantias substanciais que os artistas recebiam quando programas de sucesso ou filmes em que estrelavam eram transmitidos na televisão praticamente desapareceram, já que as empresas de "streaming" agora se recusam a divulgar números de audiência.
Essas empresas de serviços audiovisuais por Internet pagam uma taxa fixa por todos os programas disponíveis em suas plataformas, o que pode significar um retorno pequeno para um sucesso global.
"Para mim, é uma loucura que não queiram se sentar e dizer: 'precisamos envolvê-los nisso de maneira honrosa e respeitosa, para que possam viver com essa mudança significativa'", disse Drescher.
"A verdade é que não fizeram isso", completou.
Apesar de sua frustração com os estúdios, Drescher insistiu em que a "porta do SAG-AFTRA está aberta para continuar as negociações".
"A greve não é o fim, é apenas o próximo passo. Gostaríamos muito de continuar negociando. Mas a bola está do lado deles", concluiu.
(R.Lavigne--LPdF)