Estudo descarta que superpopulação tenha causado 'ecocídio' na Ilha de Páscoa
Um estudo sobre o cultivo de batata-doce na Ilha de Páscoa concluiu que nunca houve uma superpopulação que tenha causado um "ecocídio" para os primeiros habitantes de origem polinésia desse território do Pacífico, pertencente ao Chile.
Publicado nesta sexta-feira (21) pela revista Avanços Científicos da Universidade americana de Columbia, o estudo destaca que a civilização desaparecida de Rapa Nui, nome nativo da ilha, nunca "chegou a níveis insustentáveis" que tenham causado o seu suposto colapso.
Em vez disso, os polinésios que chegaram há cerca de mil anos a esse território insular remoto, situado a 3.700 km do continente chileno, "encontraram formas de enfrentar as limitações severas da ilha e mantiveram por séculos uma população pequena e estável".
Os pesquisadores se basearam em "um inventário novo e sofisticado de engenhosos hortos rupestres" onde os Rapa Nui cultivavam batatas, um alimento básico da sua dieta.
Segundo os estudiosos, a superfície desses cultivos podia manter apenas cerca de 2 mil ou 3 mil pessoas, número que os europeus encontraram quando chegaram à ilha no século XVIII, e não os 17.500 ou 25.000 estimados até hoje com base na necessidade de mão de obra para esculpir seus famosos Moais, esculturas de pedra gigantes.
Os cientistas buscaram por décadas a causa do desaparecimento da civilização autora desses monólitos. "Isso mostra que a população nunca poderia ter sido tão grande quanto algumas estimativas anteriores", ressaltou o autor principal do estudo, Dylan Davis, pesquisador de Columbia.
"A lição é contrária à teoria do colapso. As pessoas conseguiram ser muito resistentes frente aos recursos limitados modificando o meio ambiente de uma forma que ajudou", explicou Davis.
Formada por rocha vulcânica, a Ilha de Páscoa é, possivelmente, o lugar habitado mais remoto da Terra e um dos últimos a ser colonizado. Cerca de 5 mil km a oeste se encontram as Ilhas Cook, de onde se acredita que colonos zarparam por volta do ano 1.200 da era atual.
Para se protegerem das condições adversas, os primeiros colonizadores usaram uma técnica que consiste em espalhar pedras sobre superfícies baixas para proteger os cultivos da maresia e do vento. Com a ajuda da inteligência artificial, os pesquisadores estudaram em campo os jardins de pedras e suas características, por um período de cinco anos.
O arqueólogo da Universidade de Binghamton Carl Lipo, coautor da pesquisa, acrescentou que as provas acumuladas baseadas na datação por radiocarbono de artefatos e restos humanos tampouco sustentam a ideia de grandes populações.
A ilha é habitada atualmente por cerca de 8 mil pessoas, às quais se somam cerca de 100 mil turistas por ano.
(C.Fontaine--LPdF)