China quer reforçar laços com Alemanha, que busca se distanciar de Pequim
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, pediu nesta terça-feira (20) uma maior cooperação econômica com a Alemanha, cujo governo tenta reduzir sua dependência do gigante asiático.
Em sua primeira viagem ao exterior desde que foi nomeado em março, Li também destacou a importância que seu país atribui às relações com a União Europeia (UE), em meio à crescente desconfiança do bloco em relação a Pequim.
"A recuperação econômica mundial carece de uma dinâmica de crescimento. China e Alemanha, como grandes nações influentes, devem trabalhar juntas para a paz e o desenvolvimento mundial", disse Li em entrevista coletiva ao lado do chefe de governo alemão, Olaf Scholz.
O primeiro-ministro chinês também garantiu que Pequim atribui "grande importância aos laços entre a UE e a China e quer trabalhar com a Alemanha para promover esses laços".
Scholz se reuniu com Li no auge de um reajuste da diplomacia alemã em relação à China, embora continue sendo seu primeiro parceiro comercial.
A Alemanha agora tem uma visão mais crítica do gigante asiático do que nos anos anteriores, especialmente durante o governo da então chanceler Angela Merkel, quando Berlim queria fortalecer suas relações comerciais com a China.
- "Colaborações equilibradas" -
A primeira economia europeia procura diversificar seus parceiros para "reduzir os riscos" derivados de uma dependência excessiva da China em setores estratégicos, embora não possa ignorar o mercado chinês, essencial para sua poderosa indústria.
"A Alemanha busca ampliar suas relações econômicas na Ásia. Não queremos nos fechar a um parceiro, queremos colaborações equilibradas", disse o chanceler, garantindo que "não tem interesse" em romper relações econômicas com a China.
O responsável chinês pediu, no entanto, aos países que queiram reduzir sua dependência econômica da China que não utilizem a estratégia de "redução do risco" para discriminar seu país.
"Acho que a maioria dos amigos da indústria alemã não verá a China como um risco e não aceitará uma suposta política de 'redução de risco' contra a China", disse Li, enfatizando sua preocupação com possíveis "medidas discriminatórias".
Em plena tensão entre China e Estados Unidos, a Alemanha desponta como um bom interlocutor para Pequim, principalmente quando a economia chinesa encontra dificuldades após a pandemia da covid-19.
Pequim e Washington retomaram o diálogo com a recente visita do secretário de Estado americano, Antony Blinken, à capital chinesa. Mas ainda há divergências entre os dois países.
"Pequim quer mostrar que continua o diálogo com um de seus principais parceiros comerciais", disse Mikko Huotari, economista do Instituto Mercator de Estudos sobre a China (Merics), em Berlim.
- "Juntos" pelo clima -
Mas a Alemanha insiste em que os tempos mudaram.
No nível diplomático, as divergências entre os dois países são muito mais marcantes, desde ameaças chinesas contra Taiwan e acusações de maus-tratos à minoria uigur até a omissão de Pequim em condenar a invasão russa da Ucrânia.
O conflito na ex-república soviética também expôs a excessiva dependência do petróleo russo.
Na semana passada, o governo alemão apresentou sua chamada Estratégia de Segurança Nacional, que descreve Pequim como uma força hostil. A China age "contra nossos interesses e valores", diz o documento.
O texto insiste, no entanto, na necessidade de continuar a tratar o país como um "parceiro" e obter a cooperação de Pequim em outras questões fundamentais, como o combate à mudança climática.
O clima oferece aos dois países um terreno comum para superar as tensões, disseram os dois líderes nesta terça-feira.
"China e Alemanha devem se tornar parceiros verdes", afirmou Li.
Scholz pediu aos dois países, "principais emissores de CO2" do mundo, que "assumam juntos" a responsabilidade de lutar contra o aquecimento global.
(F.Moulin--LPdF)