A um ano dos Jogos de Paris, organizadores encaram várias frentes de pressão
Em meio a um país em ebulição, diferentes versões torno da presença de atletas russos e uma ameaça judicial, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e o governo da França se dizem "preparados", mas iniciam o último ano antes do evento sob forte pressão.
Paris recebe os Jogos Olímpicos de 26 de julho a 11 de agosto de 2024, antes dos Paralímpicos, de 28 de agosto a 8 de setembro.
- Ameaça judicial -
No final de junho, houve operações de busca e apreensão na sede do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (COJO), assim como nas casas de seus principais dirigentes: o diretor-geral, Etienne Thobois, e o diretor de operações, Edouard Donnely, em uma investigação sobre suspeitas de atividades ilegais de favorecimento.
Algo que deixa aberta a ameaça de uma evolução judicial que pode semear incertezas para os próximos 12 meses. Em todo caso, e embora os vazamentos de informação sobre os mercados afetados tenham sido escassos, "o mal está feito", diz um assessor do evento olímpico.
Todas as opções estão abertas, inclusive a de nada acontecer daqui a um ano. Diante dos comitês olímpicos de todo o mundo reunidos em 14 de julho em Paris, o presidente do COJO, Tony Estanguet foi tranquilizador: afirmou que os procedimentos eram "robustos" em termos de ética, e não pronunciou as palavras "investigação" e "buscas", mas falou de simples "controles".
- Com ou sem russos? -
O Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda não enviou um convite a Rússia e Belarus, mas prometeu se posicionar sobre o caso "no momento oportuno".
Por enquanto, o COI recomendou às federações internacionais que reintegrem em suas competições os atletas russos e bielorrussos, desde que estes não tenham apoiado ativamente a guerra que acontece na Ucrânia desde fevereiro de 2022.
Se os russos estiverem presentes em Paris, "a preocupação é o boicote" da Ucrânia e de outros países em seu apoio.
O presidente da França, Emmanuel Macron, ainda não se pronunciou, mas a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, se mostrou em fevereiro contra a chegada de atletas russos à cidade "enquanto houver guerra".
- Contexto social -
Depois dos protestos contra a reforma da Previdência e após vários dias de distúrbios em toda a França por conta de excessos da polícia na periferia de Paris, o comitê organizador dos Jogos terá que lidar com um contexto social efervescente.
"Há dois anos o panorama era diferente, o risco está presente", reconhece um membro do COJO.
Seria paradoxal os Jogos Olímpicos serem afetados pela agitação social, depois de recorrerem à iconografia e à retórica revolucionária francesas: imagens de maio de 1968 em seus vídeos, o percurso da maratona por onde passou a 'Marcha das mulheres sobre Versalhes' em 1789, as mascotes em forma de barrete frígio.
- Exército reforçado -
"O dispositivo de segurança será sem precedentes. Acho que será o lugar do planeta onde haverá segurança total", promete Tony Estanguet, enquanto a proteção da cerimônia de abertura e o próprio evento em si suscitam preocupação.
Para auxiliar o efetivo da segurança privada, é provável que haja o reforço de homens do exército.
- Preocupação com o transporte -
Atualmente há uma corrida contra o tempo para que a linha 14 do metrô chegue até a vila olímpica de Saint-Denis. O presidente da RATP (rede de transportes parisienses), o ex-primeiro-ministro Jean Castex, afirma que tudo estará "pronto" em junho de 2024.
A questão dos transportes, ao lado da segurança, será crucial e é acompanhada de perto pelo presidente do COI, Thomas Bach, segundo uma fonte próxima do processo de preparação para o evento.
- Atenção com o orçamento -
Na segunda-feira, o anúncio da LVMH, líder no ramo de artigos de luxo, como um dos patrocinadores dos Jogos de Paris foi um alívio para as contas do COJO.
Sem o aporte da LVMH, que é de cerca de 150 milhões de euros (R$ 788 milhões na cotação atual), os organizadores já tinham conseguido levantar 1 bilhão de euros (R$ 5,2 bilhões) dos 1,240 bilhão (R$ 6,519 bilhões) previstos.
Apesar disso, o COJO não poderá deixar de economizar. O presidente da comissão de coordenação dos Jogos de Paris, Pierre-Olivier Beckers, disse durante sua última visita à capital francesa que era necessário "continuar em busca de otimizações" para "manter o orçamento".
(F.Bonnet--LPdF)