Combates na capital da Líbia deixam ao menos 55 mortos
Dois poderosos grupos armados líbios se enfrentaram na madrugada de segunda para terça-feira (15) e deixaram pelo menos 55 mortos e 146 feridos nos subúrbios de Trípoli, segundo o último balanço oficial desta quarta-feira (16).
Os combates entre a Brigada 444 e a Força Rada, ou Força Especial de Dissuasão, duas das muitas formações que surgiram desde a queda de Muammar Gaddafi em 2011, eclodiram na noite de segunda-feira no sudeste da capital.
Ao menos 55 pessoas morreram e 146 ficaram feridas nesses confrontos, disse Malek Mersit, porta-voz do Centro Médico de Emergência (CMU), à televisão al-Ahrar.
Anteriormente, o CMU havia informado que 234 famílias e dezenas de médicos e enfermeiros estrangeiros foram retirados do sul da cidade e que três hospitais de campanha foram montados. Cerca de sessenta ambulâncias foram mobilizadas para socorrer feridos e civis encurralados pelos combates.
Os confrontos começaram na segunda-feira, quando integrantes da Força Rada detiveram o coronel Mahmud Hamza, comandante da Brigada 444.
Na noite de terça-feira, o "conselho social", formado por notáveis de Soug al Joumaa, setor no sudeste de Trípoli e reduto da Força Rada, anunciou que Hamza seria transferido para uma zona neutra e que, quando isso acontecesse, haveria um cessar-fogo.
Os combates diminuíram no fim de terça-feira e hoje Trípoli retomou seu ritmo cotidiano, em clima de tensão.
A Líbia vive um caos desde a queda do regime de Gaddafi em 2011.
Há dois governos rivais no país: o do primeiro-ministro Abdel Hamid Dbeibah, instalado em Trípoli (oeste) e reconhecido pela ONU; e o apoiado pelo poderoso marechal Khalifa Haftar, no leste.
Tanto a Força Rada quanto a Brigada 444 estão alinhadas com o governo de Dbeibah e estão entre os grupos armados mais poderosos de Trípoli.
A Brigada 444 é dependente do Ministério da Defesa e considerada o mais disciplinado dos grupos armados do oeste.
A Força Rada atua como polícia em Trípoli. Declara-se independente do governo e controla o centro e o leste da cidade, além do aeroporto de Mitiga e um presídio.
- "Desescalada imediata" -
Abdel Hamid Dbeibah visitou a área devastada pelos combates na noite de terça-feira, junto com o ministro do Interior, e pediu que "os danos materiais sejam avaliados para indenizar os cidadãos", segundo o governo.
O Ministério do Interior montou um dispositivo de segurança para supervisionar o cessar-fogo e enviou forças aos setores de maior tensão.
Os voos comerciais, desviados provisoriamente para Misrata (200 km ao leste), foram retomados na manhã desta quarta-feira, informou a assessoria de imprensa do aeroporto de Mitiga, o único aeroporto civil de Trípoli.
Na terça-feira, a missão da ONU na Líbia e as embaixadas dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália e União Europeia exigiram uma "desescalada imediata" e que "os avanços obtidos nos últimos anos na área de segurança sejam preservados".
A pesquisadora da ONG Human Rights Watch, Hanan Saleh, deplorou o fato de as áreas civis voltarem a ser palco de combates e afirmou que nada mudará enquanto "não houver consequências" para os responsáveis das milícias.
No final de maio, os dois grupos se enfrentaram no centro da cidade e deixaram feridos.
Em julho e agosto de 2022, confrontos entre a Força Rada e outros grupos causaram cerca de cinquenta mortes em Trípoli.
(V.Castillon--LPdF)