Biden viaja ao Vietnã com olhar voltado para a China
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegará ao Vietnã no domingo (10) para fortalecer a influência do seu país, embora a ênfase seja no contra-ataque à China, o que poderá colocar as preocupações com os direitos humanos em segundo plano.
O objetivo de Biden é o mesmo da cúpula do G20 deste fim de semana em Nova Délhi: construir apoio face à crescente influência da China.
"Durante décadas, os Estados Unidos e o Vietnã trabalharam para superar o legado compartilhado da Guerra do Vietnã", disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
"Esta visita é um passo importante no fortalecimento dos nossos laços diplomáticos e reflete o papel crescente que o Vietnã desempenhará na nossa rede de aliança no Indo-Pacífico no futuro", disse ele, referindo-se à região Ásia-Pacífico.
- Aliança estratégica -
Biden se reunirá com o líder do Partido Comunista do Vietnã, Nguyen Phu Trong, em Hanói no domingo, informou a Casa Branca. Na segunda-feira ele se reunirá com o presidente Vo Van Thuong e o primeiro-ministro Pham Minh Chinh.
Sobre a mesa está uma melhoria nas relações entre os dois países, menos de 50 anos após o fim do conflito que ceifou a vida de milhões de vietnamitas e de 58 mil soldados americanos.
Espera-se que os governantes estabeleçam "uma ampla aliança estratégica", o mais alto nível de laços diplomáticos para Hanói, que o mantém apenas com Rússia, Índia, Coreia do Sul e China.
A China é justamente no que Biden mira nesta viagem, devido aos esforços de Pequim para expandir a sua influência na Ásia.
A China, que travou uma guerra contra o Vietnã entre 1974 e 1988, também cortejou Hanói, ao enviar esta semana uma delegação de alto nível para "reforçar a solidariedade e a cooperação", segundo a agência de notícias oficial chinesa Xinhua.
- Imparcial -
Mas o Vietnã não pretende desempenhar um papel no equilíbrio entre Washington e Pequim, disse Nguyen Quoc Cuong, ex-embaixador de Hanói em Washington de 2011 a 2014.
"O Vietnã tem uma política muito clara de aproximação com todos. O Vietnã sempre disse que não tomamos partido, não escolhemos entre Estados Unidos e China. Os Estados Unidos estão cientes disso", disse Cuong.
Mas Biden aposta que o Vietnã poderia se aproximar de Washington devido às tensões na região pelas tentativas chinesas de tomar a maior parte do Mar da China Meridional.
Biden deverá equilibrar os interesses estratégicos com a defesa dos direitos humanos, como fez com Índia e Arábia Saudita.
Recentemente, uma comissão oficial dos EUA sobre liberdade religiosa criticou duramente o Vietnã por "violações graves, persistentes e sistemáticas".
Além disso, o Departamento de Estado destacou "problemas significativos de direitos humanos" no país comunista, incluindo execuções ilegais ou arbitrárias, tortura e detenção de presos políticos.
"Sempre levantamos questões de liberdade de expressão, liberdade religiosa e outros direitos humanos básicos", disse Sullivan. "Esta viagem não será a exceção".
Mas os ativistas vietnamitas não têm ilusões.
"A proteção dos direitos humanos não é mais uma prioridade", disse Le Cong Dinh, ex-advogado de direitos humanos na cidade de Ho Chi Minh.
(M.LaRue--LPdF)