Mercado de trabalho sólido dos EUA à mercê do Fed
O mercado de trabalho nos Estados Unidos tem resistido aos impactos do aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), que tenta conter a inflação sem prejudicar o emprego, uma situação incomum que poderia piorar se houver novos ajustes na política monetária.
"A minha preocupação é que, se o Fed for mais longe e entrarmos em uma leve recessão, o impacto será mais forte para alguns grupos e pode causar danos", resumiu Elise Gould, do Economic Policy Institute, um centro de pesquisa progressista.
O Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC) se reúne nesta terça e na quarta-feira em uma reunião durante a qual, de acordo com as expectativas do mercado, poderá manter suas taxas de juros de referência inalteradas.
O Fed tem dois objetivos: combater a inflação e promover o pleno emprego. Em tempos normais, combater a inflação elevando as taxas de juros provoca um aumento do desemprego. O consumo e o investimento caem, esfriando a economia.
O desafio do banco central é conter os aumentos de preços sem afetar o mercado de trabalho.
Mas após a pandemia, o mercado de trabalho nos Estados Unidos está batendo recordes, com uma taxa de desemprego abaixo de 4%, o menor nível em mais de 35 anos.
- Criação de empregos -
A criação de empregos é alta e a escassez de mão de obra tem sido a norma nos últimos meses e anos pós-pandemia.
Portanto, a taxa de emprego das pessoas entre 25 e 54 anos está perto de seus níveis recordes, destaca Gould.
São índices "acima dos anteriores à pandemia", ressaltou a especialista para destacar a solidez do mercado de trabalho, que antes da covid-19 tinha uma taxa de desemprego em mínimas históricas.
"Os modelos tradicionais não foram pensados para um período como este, com as causas da inflação que vimos e os choques que a economia e a sociedade experimentaram", refletiu Aaron Sojourner, pesquisador chefe do Upjohn Institute for Employment Research, especializado em pesquisa do mercado de trabalho.
- "O melhor dos mundos" -
"Após um longo período de taxas baixas" para impulsionar a economia durante a pandemia, "é normal que o efeito" do ajuste da política monetária "demore a ser sentido, já que tanto as empresas quanto as famílias estão em uma boa situação financeira", explicou Madhavi Bokil, vice-presidente na área de investimentos da Moody's.
Para a secretária do Tesouro, Janet Yellen, não há "nenhum sinal de que a economia possa mudar de rumo", disse ela em declarações à CNBC.
"É o melhor dos mundos: uma economia forte, um mercado de trabalho forte e uma inflação em queda", acrescentou.
O Fed divulgará sua decisão sobre as taxas de juros na quarta-feira.
(N.Lambert--LPdF)