Israel forma governo de emergência em plena guerra com o Hamas
O premiê ultranacionalista Benjamin Netanyahu e um líder da oposição israelense anunciaram, nesta quarta-feira (11), a formação de um "governo de emergência" até o fim da guerra com o Hamas, que voltou a disparar foguetes contra Israel, enquanto a artilharia israelense mantinha os ataques contra Gaza.
"Depois de uma reunião (...), realizada hoje, ambos concordaram em estabelecer um governo de emergência e um gabinete de guerra", diz um comunicado sobre a reunião entre Netanyahu e o ex-ministro da Defesa, o centrista Benny Gantz.
O governo de coalizão de Netanyahu, o mais à direita da história de Israel, controla 64 dos 120 assentos do Parlamento. Com a incorporação do Partido de Unidade Nacional, de Gantz, terá 76 assentos.
O principal líder da oposição em Israel, Yair Lapid, não integra a aliança, embora o comunicado tenha informado que ele tem "reservado" um lugar no gabinete de guerra.
O anúncio ocorre cinco dias depois da ofensiva lançada contra Israel pelo Hamas a partir da Faixa de Gaza, governada desde 2007 pelo movimento islamita palestino.
O ataque por terra, mar e ar deixou mais de 1.200 mortos do lado israelense, entre eles 169 soldados, segundo o exército, assim como centenas de civis, massacrados pelos islamitas em cooperativas agrícolas e em uma festa.
Dezenas de pessoas também constam como desaparecidas ou foram feitas reféns pelo Hamas.
Israel respondeu ao ataque bombardeando Gaza, mobilizou 300.000 reservistas e enviou dezenas de milhares de soldados em torno do enclave e para a fronteira norte com o Líbano, onde nesta quarta-feira voltou a trocar tiros com o movimento xiita pró-iraniano Hezbollah, aliado do Hamas.
Em Gaza, até agora ao menos 1.055 pessoas morreram e 5.184 ficaram feridas nos bombardeios israelenses, segundo autoridades locais.
- "Erradicar" o Hamas -
Na terça-feira, Netanyahu qualificou a ofensiva do Hamas como "uma selvageria que não se via desde o Holocausto", executado pelo nazismo, e prometeu que Israel "vencerá por meio da força".
Israel bombardeia a Faixa de Gaza desde o sábado e mantém o enclave sitiado, após cortar seu fornecimento de água, eletricidade e comida. Mais de 2,3 milhões de palestinos vivem precariamente neste território de 360 km2.
Segundo o Exército israelense, vários alvos do movimento islamita foram atingidos nos bombardeios. O Hamas informou, por sua vez, que os ataques atingiram residências, fábricas, mesquitas e lojas.
Um correspondente da AFP constatou que aviões de combate israelenses bombardearam também a Universidade Islâmica, vinculada ao Hamas.
"Estamos presos, não temos para onde ir e não podemos ficar porque nosso andar está coberto de vidros quebrados e estilhaços", disse à AFP Mohammed Mazen, um cidadão de Gaza de 38 anos, pai de três crianças.
A ministra de Inteligência israelense, Gila Gamliel, declarou, em entrevista à AFP, que o governo está determinado a "erradicar" o Hamas, para que "ninguém no mundo tenha sequer a ideia de usar o ocorrido [em Israel] como um modelo" para planejar futuros atentados.
O Hamas ameaçou executar os reféns, caso prossigam os bombardeios em Gaza sem aviso prévio. Entre os capturados, estão jovens sequestrados enquanto participavam de uma festa rave na manhã de sábado, onde cerca de 250 pessoas foram mortas, segundo uma ONG israelense.
A ofensiva do Hamas pegou Israel de surpresa, embora, segundo o congressista americano Michael McCaul, chefe do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, o Egito tenha alertado os israelenses "três dias" antes do ataque.
O Egito não comentou publicamente esta informação, publicada na imprensa há vários dias.
Os braços armados do Hamas e da Jihad Islâmica afirmaram, nesta quarta-feira, que lançaram ataques com foguetes contra o sul e o centro de Israel.
Em Ashkelon (sul), "um foguete atingiu" um hospital, informou o centro de saúde, destacando que "não houve nenhum ferido".
Onze trabalhadores da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) morreram desde o sábado na Faixa de Gaza, informou Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.
A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) informou, por sua vez, que cinco de seus integrantes morreram nestes cinco dias, tanto em Israel quanto em Gaza.
Israel anunciou na terça-feira ter retomado o controle de sua fronteira com Gaza, após dias de combates com os islamitas. Cerca de 1.500 corpos de combatentes do Hamas foram encontrados no local, destacou.
- Temores de escalada regional -
O presidente americano, Joe Biden, ordenou que navios e aviões de combates se aproximem de Israel, ao mesmo tempo em que enviou mais ajuda militar ao seu aliado.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, qualificou o ataque-surpresa do Hamas de "ato de guerra" e o papa Francisco, que se disse "muito preocupado" com o cerco a Gaza, pediu a libertação "imediata" dos reféns capturados.
O presidente russo, Vladimir Putin, instou a abertura de negociações entre Israel e os palestinos, e alertou contra uma "propagação" do conflito.
O emissário chinês no Oriente Médio, Zhai Jun, pediu um "cessar-fogo imediato" em conversa por telefone com um dirigente palestino, informou o Ministério chinês das Relações Exteriores.
Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido e Itália pediram na segunda-feira ao Irã, inimigo declarado de Israel e aliado do Hamas, a "não estender o conflito" para fora de Gaza.
O guia supremo da República Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, negou na terça-feira qualquer envolvimento no ataque do Hamas contra Israel.
O chefe do Estado-maior dos Estados Unidos, general Charles Brown, informou, nesta quarta-feira, que Washington não tem indícios de que algum país ou "atores adicionais" queiram se somar à ofensiva do Hamas contra Israel.
(P.Toussaint--LPdF)