MP da Guatemala faz operação em sede da Save the Children para investigar abuso infantil
O Ministério Público da Guatemala realizou nesta quinta-feira (25) uma operação de busca e apreensão nos escritórios da ONG internacional Save the Children como parte de uma investigação sobre supostos abusos contra menores, que, segundo as autoridades, também conta com a participação de promotores do Texas, nos Estados Unidos.
Uma porta-voz da Save the Children confirmou à AFP que "funcionários do Ministério Público [MP] chegaram" a seus escritórios no sul da Cidade da Guatemala, mas preferiu não dar mais detalhes no momento.
Jornalistas da AFP viram funcionários com coletes com a sigla "MP" em amarelo e agentes de segurança na entrada dos escritórios da Save the Children, que estava fechada.
A batida ocorre "como parte de uma investigação transnacional de grande importância, pois envolve ações que podem estar relacionadas a violações e abusos contra a infância guatemalteca", afirmou o procurador Rafael Curruchiche em um vídeo divulgado na rede X.
A operação acontece 12 dias depois que circulou na imprensa a notícia de que promotores guatemaltecos haviam solicitado à Promotoria do Texas dados para investigar um suposto tráfico de crianças guatemaltecas na fronteira sul dos Estados Unidos, e que envolveria ONGs, entre elas a Save the Children.
Curruchiche, chefe da Promotoria Especial contra a Impunidade, garantiu que a operação foi motivada por uma denúncia - cuja origem não revelou - e assinalou que se solicitou apoio à Promotoria do Texas "para abordar de maneira integral esta investigação".
Aliado da controvertida procuradora-geral Consuelo Porras, sancionada pelos Estados Unidos por atos de corrupção e antidemocráticos, Curruchiche disse que ordenou a "diligência de inspeção, registro e apreensão de evidências" de uma das ONGs "mencionadas na denúncia", a qual não identificou.
- Crianças migrantes -
Diante da versão que circulou na imprensa local na semana passada, a Save the Children negou em um comunicado que facilitasse "a saída do país de meninos, meninas e adolescentes na Guatemala".
"Assumimos com grande responsabilidade os argumentos relacionados com a proteção das crianças e condutas impróprias e temos mecanismos de investigação independentes para averiguar minuciosamente", afirma a nota de imprensa.
A ONG assinalou que tinha conhecimento dos "apontamentos que circulam relacionados ao bem-estar de meninos, meninas e adolescentes migrantes".
Mas disse não ter "evidência que valide tais apontamentos" e que segue "trabalhando arduamente para proporcionar ajuda humanitária a crianças e adolescentes migrantes e suas famílias".
Segundo o jornal guatemalteco Prensa Libre, o secretário-geral do Ministério Público, Ángel Pineda, em uma carta enviada ao procurador-geral do Texas em 12 de abril, dava detalhes de outras entidades possivelmente envolvidas.
"Entre as organizações não governamentais que estão operando na Guatemala e no estado de Texas que poderiam estar participando em uma operação de tráfico de crianças, preocupa o envolvimento de 'Save the Children', 'ChangingtheWayWecare', 'Global Fund for the Children', 'Arise' e 'La Unión del Pueblo Entero'", afirmou Pineda na carta, segundo o Prensa Libre.
As ONGs estão envolvidas "no abuso de crianças guatemaltecas quando estão longe de seus pais e não têm alguém que as proteja", insistiu Pineda, segundo a imprensa local.
A Save the Children atua na Guatemala desde o terremoto devastador de 1976 que deixou mais de 25.000 mortos e se estabeleceu de forma permanente em 1983.
Segundo a organização, proporcionam educação, saúde e nutrição, proteção de crianças e adolescentes e apoio humanitário, incluindo crianças migrantes e suas famílias.
(F.Bonnet--LPdF)