Governo da Colômbia concede subsídio a jovens expostos à violência
Segundo as leis criminosas do bairro onde cresceu, no Pacífico colombiano, Franklin Mina deveria ter sido membro de uma gangue. Em vez disso, é comerciante e estuda graças a um subsídio que o presidente Gustavo Petro chamou de "pagar para não matar".
O jovem de 27 anos cresceu entre tiros e sangue em Buenaventura, o maior porto do país neste oceano e palco de uma disputa acirrada entre duas gangues que se autodenominam Los Shottas e Los Espartanos.
"Desde criança sei o que é uma arma, o que é uma bala", disse à AFP nesta cidade de 324 mil habitantes. Mina evitou o mundo do crime determinada a estudar.
Há alguns meses, ele iniciou um negócio com o subsídio de cerca de 250 dólares por mês (1.362 reais na cotação atual) que o governo Petro criou para homens e mulheres entre 14 e 28 anos, suscetíveis a aderir a grupos armados ilegais.
"Serão milhares de jovens que vamos pagar para não matar, não participar da violência, para estudar. Vamos ajudá-los", anunciou o presidente de esquerda em 2023.
Até à data, quase 3.000 jovens são beneficiários do programa em cidades como Bogotá, a capital, e Medellín, onde o governo está em diálogo com organizações criminosas herdeiras do chefão da cocaína Pablo Escobar.
Também há negociações nos municípios de Puerto Tejada e Guachené, em Cauca (sudoeste), departamento dominado por dissidentes da extinta guerrilha Farc que não aceitaram o acordo de paz de 2016.
Los Shottas e Los Espartanos discutem seu desarmamento.
A oposição afirma que o programa oficialmente denominado "Juventude em Paz" está, na verdade, financiando membros de grupos armados com dinheiro do Estado.
Denunciam também a corrupção na seleção dos beneficiários, alegando casos suspeitos que o governo atribui a danos já resolvidos na plataforma de registro.
A oposição garante que o programa batizado oficialmente como "Jovens em Paz", na realidade está financiando membros de grupos armados com dinheiro do Estado.
Além disso, denunciam corrupção na seleção dos beneficiários, alegando casos suspeitos que o governo atribui a um problema já resolvido na plataforma de inscrição.
- "Para seguir adiante"-
Para receber o subsídio, os jovens devem estar em situação de extrema pobreza, sob o risco de serem recrutados por grupos criminosos e não possuir mandados de prisão.
Em Buenaventura, com a maioria da população negra, a pobreza atinge 40% dos habitantes e o desemprego ultrapassa os 25%.
Mina reconhece que alguns de seus amigos e familiares seguiram o caminho das gangues, que são financiadas pelo tráfico de drogas, extorsão e outros negócios ilegais.
Ele preferiu se dedicar à informática e com o dinheiro do "Jovens em Paz" comprou um computador, uma impressora e materiais para abrir uma pequena papelaria que hoje dirige.
A violência é "um problema que é estrutural, mas (este) é o começo para conseguirmos nos transformar", comemora.
Cristina Martínez (26 anos) lamenta que outras meninas trans como ela tenham sido recrutadas à força por gangues e obrigadas a esconder a sua identidade.
"Há algumas na clandestinidade", ou seja, caladas e sem revelar que pertencem à comunidade LGBTQIAPN+, afirma.
Ela trabalhou brevemente como garçonete, mas sofre rejeição e falta de emprego.
"Antes eu tinha que me deslocar de um lugar para outro para conseguir dois, três pesos (...) agora com esse programa não tenho mais necessidade de me deslocar para outros lugares para me expor para conseguir dinheiro para seguir em frente", afirma.
O subsídio para cada jovem é de 18 meses ou menos caso não cumpra os seus compromissos.
(N.Lambert--LPdF)