Líder indígena tem esperança em Lula, 'mas não total'
Com certo otimismo, mas cautela: assim o líder indígena Olímpio Guajajara vê o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu defender os direitos dos povos originários e combater o desmatamento na Amazônia, que aumentou no governo de Jair Bolsonaro.
Para Guajajara, líder dos Guardiões da Floresta, que patrulham seu território no Maranhão para impedir o desmatamento ilegal, o presidente deu bons sinais nos primeiros meses de seu terceiro mandato, como a retomada da demarcação das reservas indígenas. Mas o líder indígena mantém uma parcela de desconfiança por causa "dos danos" que seu governo hes causou no passado, confessou à AFP nesta semana, na 19º edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília.
PERGUNTA: Lula prometeu combater o desmatamento e devolver aos povos indígenas o protagonismo no tema ambiental. Como avalia a gestão do presidente até agora?
RESPOSTA: Já deu um passo: a criação do Ministério dos Povos Indígenas. Acho que as autoridades que apoiam a nossa resistência irão nos ouvir e, pelo menos, aliviar a situação da demarcação das terras indígenas. (NDR: Lula anunciou nesta sexta-feira (28) a demarcação de seis novos territórios indígenas, os primeiros desde 2018).
P: Quatro anos de governo serão suficientes para desfazer os retrocessos em assuntos indígenas e ambientais de seu antecessor Jair Bolsonaro?
R: Não é suficiente, mas temos um pouquinho de esperança. Não temos esperança total em que o governo Lula seja bom, porque, no passado, ele também causou danos ao nosso povo, como, por exemplo, Belo Monte.
P: O desmatamento é impulsionado pelas indústrias milionárias da madeira e pelo agronegócio. Pode haver uma economia que respeite o meio ambiente e seja produtiva em terras indígenas?
R: Certamente. Somos agricultores natos. Nosso povo pode fazer uma produção muito mais saudável, sem agrotóxicos, sem veneno nenhum, fazendo reflorestamento e plantios ecológicos, para poder garantir uma sustentabilidade alta
P: Por que surgiram os Guardiões da Floresta?
R: Em 2012, o Estado brasileiro amarrou um pano na cara, fechou a boca, tapou os ouvidos, esqueceu de sua responsabilidade com a fiscalização das terras indígenas demarcadas. Se fôssemos denunciar o Estado brasileiro por milhares de árvores que foram roubadas ilegalmente, ele não teria recursos para nos indenizar.
Com esta calamidade, nós nos organizamos. Conseguimos ir para o combate, primeiramente conversando com os madeireiros. Mas houve confrontos e tiroteios (NDR: seis guardiões foram mortos)
No ano passado, reduzimos as entradas de 72 para cinco. Hoje, temos duas, e iremos fechá-las, porque vamos criar uma base de monitoramento.
P: O que pedem ao governo?
R: Queremos a garantia do direito à autonomia do nosso povo, de nos organizarmos, como temos feito. Houve discussões sobre regulamentar os Guardiões. Pode ser que outros estados, outros povos, aceitem isto, mas a terra indígena Arariboia não aceita que se acabe com a nossa autonomia.
Enquanto vivermos, buscaremos melhorias de vida para o nosso povo.
(R.Dupont--LPdF)