Migrantes retidos na fronteira entre Chile e Peru retornam à Venezuela
Um grupo de 115 migrantes venezuelanos retornou neste domingo (7) ao seu país, procedente do norte do Chile, em um voo de repatriação de pessoas que ficaram retidas por semanas na fronteira com o Peru.
"Feliz por estar em casa. Estou muito feliz por ter voltado", comemorou, entre lágrimas, Juri Gil, 38, que ficou retida por 11 dias na fronteira entre Chile e Peru. "Foi duro. Improvisamos barracas, sobrevivemos no frio, no calor, não foi fácil. Havia muito lixo em volta", descreveu.
Centenas de migrantes, principalmente venezuelanos, permaneceram por mais de duas semanas retidos na fronteira entre aqueles dois países. Eles tinham o objetivo de deixar o Chile, após o endurecimento do controle migratório pelo governo do esquerdista Gabriel Boric.
O Peru impediu a passagem dos mesmos, alegando falta de documentação, e militarizou suas fronteiras por 60 dias, para reforçar a vigilância e enfrentar a insegurança relacionada a crimes associados a estrangeiros, de acordo com a presidente Dina Boluarte.
O voo para a Venezuela, que decolou da cidade de Arica, a cerca de 2.000 km de Santiago, foi realizado por uma companhia aérea privada, e não pela pública venezuelana Conviasa. A iniciativa fez parte do programa "Retorno à Pátria", promovido pelo governo de Nicolás Maduro.
Muitos viajaram com seus filhos, e outros, com animais de estimação. Ao desembarcarem no Aeroporto Simón Bolívar, que atende a Caracas, os migrantes receberam alimentação e tiveram à disposição transporte para levá-los a outros terminais terrestres, a fim de que chegassem a seus estados de origem.
- Vitória diplomática -
"Esse primeiro voo de retorno de venezuelanos é uma vitória diplomática e um triunfo do diálogo e daqueles que buscam soluções", disse o presidente Boric.
O chanceler venezuelano, Yván Gil, comemorou o retorno dos migrantes em "uma operação 100% apoiada pelo Governo Bolivariano da Venezuela", que conseguiu repatriar 30.000 cidadãos com seu programa oficial.
Os 115 venezuelanos que retornaram a seu país aguardavam havia mais de duas semanas no posto fronteiriço de Chacalluta, fronteira com o Peru. Horas antes do embarque, eles foram levados para albergues em Arica.
"As leis do Chile dificultaram a nossa vida e tivemos que tomar a decisão de retornar", declarou David Molina, 32 anos, um dos migrantes no voo.
"Não saio nunca mais do país. No exterior, somos tratados praticamente como cachorros", criticou Gerardo Valladares, 22, ao desembarcar na Venezuela.
Quatro venezuelanos não puderam embarcar no voo, devido a mandados de prisão pendentes, segundo a chancelaria chilena.
Segundo a ONU, 7,2 milhões de venezuelanos deixaram seu país devido a uma crise generalizada. O colapso da economia local se manteve por sete anos consecutivos e foi aliviado no fim de 2022, embora a inflação venezuelana continue entre as mais altas do mundo.
- Ordenada e segura -
Autoridades chilenas afirmaram que este é foi o primeiro voo de repatriação. Outros aviões devem decolar nos próximos dias, mas não necessariamente de Arica.
O Chile já havia militarizado sua fronteira norte, em uma tentativa de controlar a entrada irregular de migrantes. Além disso, o Congresso aprovou leis que endurecem o controle migratório: uma determina a detenção de quem não apresentar documentação e outra amplia o prazo de detenção para possibilitar os trâmites de expulsão.
Outros migrantes venezuelanos permaneceram na fronteira norte do Chile. Eles querem deixar o território chileno, mas não pretendem retornar para seu país, uma situação parecida com migrantes colombianos, haitianos e equatorianos.
De acordo com a agência de refugiados da ONU, de 150 a 200 migrantes por dia, em média, ficam retidos entre países sul-americanos.
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(N.Lambert--LPdF)