Ucrânia reivindica avanços perto de Bakhmut à espera de visita de enviado chinês
A Ucrânia reivindicou, nesta terça-feira (16), avanços territoriais frente aos russos perto da cidade devastada de Bakhmut, epicentro dos combates, após repelir uma onda de mísseis disparados por Moscou durante a noite e na véspera da visita de um enviado chinês a Kiev.
A Rússia enfrenta há vários dias um contra-ataque ucraniano em seus flancos em Bakhmut, cidade que controla em mais de 90%, apesar das crescentes tensões entre o exército e o grupo paramilitar Wagner.
"Nos últimos dias, nossas tropas liberaram aproximadamente 20km² ao norte e ao sul da periferia de Bakhmut", afirmou a vice-ministra ucraniana da Defesa, Ganna Malyar, em um comunicado publicado nas redes sociais.
No entanto, apontou que as tropas russas continuam avançando dentro da própria cidade, onde cercam os últimos focos de resistência ucraniana no oeste, "destruindo completamente a cidade com artilharia".
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, moderou as expectativas destes avanços e destacou que não se trata da tão esperada grande contraofensiva que Kiev prepara há meses e para a qual seu exército "precisa de mais tempo".
Durante a noite, a Ucrânia assegurou ter repelido outra onda de ataques derrubando seis mísseis hipersônicos russos Kinzhal, difíceis de interceptar, e outros 12 artefatos, entre eles mísseis de cruzeiro Kalibir e drones de fabricação iraniana.
Enquanto as forças ucranianas comemoravam ter destruído todos os mísseis russos em voo, a Rússia assegurou que havia "alcançado todos os objetivos", incluindo "posições das forças armadas ucranianas" e depósitos ocidentais de munições e armas.
Correspondentes da AFP observaram, durante a noite, a defesa antiaérea ucraniana em ação, iluminando o céu noturno para destruir mísseis russos dirigidos contra a capital.
- Enviado chinês -
O míssil Kinzhal ("Punhal" em russo) é uma das armas que o presidente russo, Vladimir Putin, considera "invencíveis" porque afirma que sua velocidade hipersônica dificulta a eficácia da maioria dos sistemas de defesa antiaérea.
No entanto, a Ucrânia anunciou, pela primeira vez, que havia derrubado um míssil russo desse tipo no início de maio, graças ao potente sistema antiaéreo americano Patriot entregue a Kiev em abril.
O exército russo, por sua vez, afirmou ter alcançado seus objetivos, mas também ter destruído um sistema Patriot americano em Kiev e interceptado sete mísseis Storm Shadow britânicos de longo alcance, cuja entrega foi anunciada na semana passada por Londres.
Segundo o prefeito da capital ucraniana, Vitali Klichko, três pessoas ficaram feridas nos ataques de terça-feira, que aconteceram horas antes da esperada chegada do enviado chinês Li Hui a Kiev para uma visita de dois dias.
Li Hui, representante especial para Assuntos Euro-asiáticos e ex-embaixador chinês em Moscou, tem previsto abordar a "solução política" do conflito ucraniano.
Também tem previsto visitar Polônia, França, Alemanha e Rússia.
Segundo uma fonte governamental ucraniana consultada pela AFP, o enviado chinês se reunirá em Kiev com o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kulema, e com outros altos funcionários.
A China, estreita aliada de Moscou, nunca condenou publicamente a invasão russa da Ucrânia e apenas propôs um plano de 12 pontos para encerrar a guerra, visto com ceticismo pelo Ocidente.
Uma missão de paz liderada por seis líderes africanos partirá "o quanto antes" para a Ucrânia e Rússia. Nesta terça-feira, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, afirmou que Kiev e Moscou haviam "acordado recebê-la".
- Cúpula europeia -
O ataque russo acontece um dia depois de o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, retornar a Kiev, após um giro europeu que o levou à Itália, ao Vaticano, à Alemanha, à França e ao Reino Unido.
"Voltando para casa com (...) armas novas e potentes para a frente de batalha", declarou Zelensky em um vídeo, após conseguir novas promessas de ajuda.
O presidente ucraniano obteve do Reino Unido drones de ataque de longo alcance e mísseis antiaéreos.
Também se mostrou "muito otimista" sobre a possível entrega de aviões de combate ocidentais, que os países europeus se negaram a proporcionar até o momento.
Na frente diplomática, os 46 Estados membros do Conselho da Europa se reúnem em uma cúpula na Islândia para mostrar sua unidade frente à Moscou.
A reunião, a quarta nos quase 75 anos de história dessa organização pan-europeia, quer aumentar as vias para responsabilizar penalmente a Rússia pela destruição e pelos crimes de guerra por sua invasão à Ucrânia.
Por outro lado, segue a incógnita de se será possível prorrogar o acordo de exportação de grãos ucranianos, já que o Kremlin afirmou, nesta terça-feira, que ainda faltavam "muitas questões" por resolver.
(A.Laurent--LPdF)