Exército do Níger apoia militares golpistas que detêm presidente
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Níger apoiou nesta quinta-feira (27) os líderes militares que mantêm detido o presidente Mohamed Bazoum, que prometeu proteger os avanços democráticos "duramente conquistados" da nação africana.
O Níger, um vasto território desértico empobrecido, é o terceiro país do Sahel afetado por ataques jihadistas a sofrer um golpe desde 2020, depois de Mali e Burkina Faso.
“O comando militar das forças armadas do Níger decidiu assinar a declaração das forças de defesa e segurança”, indica um comunicado assinado pelo chefe do Estado-Maior, o general Abdou Sidikou Issa, com o objetivo de "evitar um confronto mortal entre as diferentes forças".
Horas antes, o presidente do Níger, Mohamed Bazoum, negou um golpe pelos militares que desde quarta-feira o retêm no palácio presidencial da capital Niamey.
"Os avanços duramente conquistados serão salvaguardados. Todos os nigerianos que amam a democracia e a liberdade vão zelar por isso", disse Bazoum em uma mensagem postada no Twitter, renomeada como X.
"O poder legal e legítimo é exercido pelo presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum", disse o ministro das Relações Exteriores e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou, acrescentando que ele "está bem de saúde".
Uma primeira manifestação de apoio ao golpe militar reuniu centenas de pessoas na manhã desta quinta-feira em Niamey, segundo jornalistas da AFP que viram várias bandeiras russas.
Na noite de quarta-feira, e após um dia de tensão e rumores de golpe de Estado, militares rebeldes afirmaram em rede nacional que derrubaram o presidente eleito democraticamente, no poder desde 2021.
"Nós, as forças de defesa e segurança, reunidas no Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria, decidimos pôr fim ao regime" de Bazoum, declarou o major-coronel Amadou Abdramane, ao lado de nove soldados.
"Isso se deve à contínua deterioração da situação de segurança e à má governança econômica e social", acrescentou.
O militar assegurou que este conselho atende a "todos os compromissos assinados pelo Níger" e garantiu à comunidade nacional e internacional que as autoridades destituídas serão tratadas "conforme os princípios dos direitos humanos".
- Fronteiras fechadas e toque de recolher -
A junta informou ainda a suspensão de "todas as instituições" do país e o fechamento das fronteiras terrestres e aéreas "até que a situação se estabilize".
"Um toque de recolher está declarado a partir de hoje das 22h às 05h em todo o território até nova ordem", acrescentou.
As negociações entre Bazoum e a guarda presidencial para encontrar uma solução falharam sem revelar quais eram as exigências dos militares.
Uma fonte próxima ao presidente aparentemente deposto disse que a guarda presidencial "se recusou a libertar" Bazoum e que "o exército lhe deu um ultimato", sem especificar em que consistia.
O golpe foi fortemente condenado por todos os parceiros do Níger, que pediram a libertação "imediata" do presidente.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse que conseguiu falar com Bazoum na quarta-feira e deixou "claro que os Estados Unidos o apoiam fortemente como presidente democraticamente eleito do Níger".
Na África Ocidental, o presidente senegalês Macky Sall também condenou o golpe de Estado.
O Níger é um dos últimos aliados do Ocidente em um Sahel devastado pela violência jihadista. Mali e Burkina Faso, liderados por militares golpistas, aproximaram-se de outros países, como a Rússia.
Desde que conquistou a independência da França em 1960, o país sofreu várias tentativas de golpe, quatro delas bem-sucedidas, a última em fevereiro de 2010, quando o presidente Mamadou Tandja foi derrubado.
(V.Blanchet--LPdF)