Le Pays De France - Regime militar do Níger ignora propostas de diálogo

Paris -
Regime militar do Níger ignora propostas de diálogo
Regime militar do Níger ignora propostas de diálogo / foto: © AFP/Arquivos

Regime militar do Níger ignora propostas de diálogo

O regime que emergiu de um golpe de Estado militar no Níger mostrou nesta terça-feira (8) pouco interesse pelas propostas de diálogo de seus vizinhos da África Ocidental e dos Estados Unidos.

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Os militares que tomaram o poder informaram à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) que não podem receber uma delegação deste bloco regional por motivos de "segurança".

"O contexto atual de indignação e irritação após as sanções impostas pela Cedeao não nos permite receber esta delegação em condições de serenidade e segurança", disse o Ministério das Relações Exteriores do Níger à organização regional.

A Cedeao tentou enviar hoje uma delegação à capital do Níger, Niamey, antes de uma reunião para abordar a crise na próxima quinta-feira, em Abuja, capital da Nigéria, que ocupa a presidência rotativa da entidade regional.

O Níger é um país fundamental para as potências ocidentais no combate aos jihadistas na região do Sahel. A França tem 1.500 soldados no país, e os Estados Unidos, 1.000.

A Cedeao impôs sanções financeiras contra o Níger depois que os militares derrubaram o presidente eleito democraticamente, Mohamed Bazoum, em 26 de julho.

Este bloco de países também deu um ultimato aos militares para que devolvessem o poder a Bazoum, sob ameaça de intervenção no país. O prazo expirou no domingo, mas a organização não cumpriu suas ameaças, privilegiando o diálogo.

"O adiamento da missão anunciada" para esta terça-feira em "Niamey é necessário, assim como a revisão de alguns aspectos do programa", afirmaram os militares na carta datada de segunda-feira.

O programa "inclui reuniões com algumas personalidades que não podem ocorrer por razões óbvias de segurança, em um clima de ameaça de agressão contra o Níger", acrescenta a carta.

- Nenhuma opção descartada -

A Cedeao prefere resolver pela via diplomática a crise no Níger, embora não descarte nenhuma opção, afirmou hoje o porta-voz do presidente da Nigéria, que lidera atualmente o bloco de países da África Ocidental.

O presidente Bola Tinubu acredita que "a diplomacia é o melhor caminho e, assim como seus colegas, preferiria alcançar uma solução por meios diplomáticos, pacíficos, antes de qualquer outro", declarou o porta-voz.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, alertou, em entrevista divulgada hoje, que mercenários russos do grupo Wagner tentam se aproveitar da instabilidade no Níger.

"Acho que o que aconteceu, e o que continua acontecendo no Níger, não foi instigado pela Rússia ou por Wagner, mas (...) eles tentaram se aproveitar", afirmou Blinken à rede BBC. "Aonde quer que o grupo Wagner tenha ido, a morte, a destruição e a exploração o acompanharam", acrescentou.

- Negociações difíceis -

O adiamento da visita do bloco regional se soma a outra mensagem enviada pelos militares, a nomeação de um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zeine, interpretada como um primeiro passo para a designação de um governo de transição.

Os Estados Unidos enviaram ontem a subsecretária de Estado, Victoria Nuland, a Niamey, onde a funcionária se reuniu com autoridades, mas o general Abdourahamane Tiani, que lidera os militares que tomaram o poder, não participou do encontro.

"As negociações foram extremamente francas e, em certos momentos, muito difíceis", disse Victoria. A diplomata explicou que havia proposto "inúmeras opções" e os "bons ofícios" dos Estados Unidos para acabar com o golpe. "Não diria, de forma alguma, que essa oferta foi aceita", reconheceu.

A França, que foi a potência colonial deste país até sua independência em 1960, afirmou nesta terça-feira que apoia "os esforços dos países da região para restabelecer a democracia" no Níger. Desde o golpe, várias manifestações entoam palavras de ordem contra a França.

O novo regime mantém, por sua vez, excelentes relações com Mali e Burkina Faso, dois países que também são governados por militares após golpes de Estado nos últimos anos.

(F.Bonnet--LPdF)