Russos podem decidir não participar dos Jogos Olímpicos, diz ministro ucraniano
O ministro de Esportes da Ucrânia, Vadym Gutzeit, não descarta a possibilidade de "os russos fazerem um 'ato de boa vontade' desistindo de participar" dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, avaliou em uma entrevista à AFP.
"Se os atletas russos participarem dos Jogos Olímpicos, os propagandistas russos tentarão transformar essa celebração do esporte em uma celebração da propaganda, assim como Hitler fez", declarou Gutzeit, referindo-se à organização dos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim pela Alemanha nazista.
Desde o início da invasão russa na Ucrânia em fevereiro de 2022, o Comitê Olímpico Internacional (COI) impôs sanções esportivas a Moscou e seu aliado Minsk, mas no início do ano, recuou em sua decisão, permitindo que atletas russos e bielorrussos participassem das competições classificatórias sob bandeira neutra, o que gerou muitas críticas de países que apoiam a Ucrânia.
Em resposta, a Ucrânia inicialmente proibiu seus atletas de participar de competições em que russos e bielorrussos competissem, com exceção do tênis.
No entanto, o governo ucraniano mudou de posição e retirou essa proibição no mês passado.
"Acredito que o COI não permitirá que os agressores participem", disse Gutzeit confiante, enquanto o COI ainda deve decidir sobre a participação de russos e bielorrussos sob bandeira neutra nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, que acontecerão de 26 de julho a 11 de agosto do ano que vem.
"A bola está agora com o COI e as federações esportivas internacionais", declarou. "Acredito que eles continuarão do lado certo da história e impedirão que os agressores participem dos Jogos".
Gutzeit destaca que se os atletas russos forem autorizados a participar, a Ucrânia poderia boicotar os Jogos de Paris e ser seguida por outros países, como os Estados Bálticos ou a Polônia.
"Também não excluo a possibilidade de os russos fazerem um 'ato de boa vontade' desistindo de participar" dos Jogos Olímpicos de Paris, avaliou.
- "Anjos do esporte" -
No cargo desde 2020, Vadym Gutzeit, campeão olímpico de esgrima em 1992 em Barcelona como parte de uma equipe unificada composta por 12 ex-repúblicas soviéticas, incluindo a Rússia, justifica sua posição devido às devastadoras consequências causadas pela guerra.
O conflito tem um custo humano, mas também causou estragos nas infraestruturas esportivas, detalha, esclarecendo que "mais de 300 atletas e treinadores ucranianos foram mortos".
"Os estádios podem ser reconstruídos, as infraestruturas podem ser restauradas, mas as vidas não podem ser trazidas de volta", lamentou Gutzeit.
O ministro de Esportes da Ucrânia também indicou que esses atletas falecidos serão honrados como parte de um projeto chamado "Anjos do Esporte".
"Contamos cada um deles e lembramos de cada um deles", afirmou.
"Esses jovens heróis estavam destinados a alcançar sucesso esportivo, estavam destinados a viver, se divertir, ser populares", declarou, enfatizando que essa "guerra deixa uma marca em todos os ucranianos".
Ele recorda, como exemplo, que "a mãe de Kateryna Tabashnyk (medalhista de bronze nos campeonatos europeus de salto em altura em pista coberta em 2023) foi morta durante os bombardeios aos bairros residenciais de Kharkiv pelos russos".
"Entre os destroços da casa, encontramos as medalhas de Kateryna, que sua mãe havia preservado", acrescenta.
(A.Laurent--LPdF)