Chefe militar do Níger alerta contra intervenção e diz que transição durará 3 anos
O general Abdourahamane Tiani, o novo homem forte do Níger, alertou neste sábado (19) que uma intervenção armada não será fácil, após a visita a Niamei de uma delegação de países da África Ocidental em busca de uma solução diplomática após o golpe de Estado.
Tiani, que assumiu o poder após o golpe militar que destituiu o presidente Mohamed Bazoum em 26 de julho, declarou em um discurso televisivo que o período de transição não ultrapassaria três anos.
"Nossa ambição não é tomar o poder", insistiu, ao mesmo tempo que alertou para as dificuldades de realizar uma intervenção armada.
"Se um ataque fosse empreendido contra nós, não será o caminho de flores que alguns parecem acreditar", destacou.
Seu discurso, de cerca de 10 minutos, ocorreu algumas horas depois que uma delegação da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) visitou Niamei, a capital, em uma última tentativa de encontrar uma solução diplomática para a crise.
Os representantes da Cedeao se reuniram com o presidente deposto, que está retido em sua residência junto com sua esposa e filho desde o golpe.
A organização regional anunciou no dia anterior que estava pronta para lançar uma intervenção armada com o objetivo de restabelecer a ordem constitucional no Níger, um aliado-chave dos países ocidentais na luta contra grupos jihadistas que atuam no Sahel.
A televisão nigerina mostrou Bazoum sorrindo e apertando a mão dos membros da delegação, liderada pelo ex-presidente da Nigéria Abdulsalami Abubakar.
Abubakar conseguiu conversar com Tiani durante a visita, embora o conteúdo da conversa não tenha sido divulgado.
Em seu discurso na televisão, o general acusou a Cedeao de se preparar "para atacar o Níger criando um exército de ocupação em colaboração com um exército estrangeiro", sem mencionar nenhum país em particular.
Tiani também anunciou o lançamento de um "diálogo nacional" que deve formular "propostas concretas" em um prazo de 30 dias, com o objetivo de estabelecer "as bases de uma nova vida constitucional".
- Garantia para presidente deposto -
Os líderes da Cedeao buscam evitar que o Níger se torne a quarta nação da África Ocidental a ser governada por um regime militar. Desde 2020, Mali, Guiné e Burkina Faso foram palco de golpes de Estado.
O bloco regional concordou em 10 de agosto em ativar uma "força de reserva" como último recurso para restaurar a ordem constitucional no Níger.
O presidente da Cedeao e da Nigéria, Bola Tinubu, ameaçou Niamei na sexta-feira com "consequências graves" se o novo regime permitisse que a saúde de Bazoum piorasse, disse um funcionário da UE.
O primeiro-ministro designado pelo exército do Níger, Ali Mahaman Lamine Zeine, disse ao jornal The New York Times que Bazoum não sofrerá danos.
"Ele não sofrerá nada, porque não temos uma tradição de violência no Níger", disse ao jornal o civil de mais alto escalão no novo regime.
Milhares de voluntários se dirigiram ao centro de Niamei no sábado após um chamado para se registrarem como auxiliares civis de apoio ao exército.
Os chefes de defesa da Cedeao se reuniram nesta semana em Acra, capital de Gana, para definir os detalhes de uma possível operação militar para restaurar Bazoum caso as negociações com os líderes do golpe falhem.
"Estamos prontos para partir a qualquer momento, assim que a ordem for dada", disse na sexta-feira Abdel-Fatau Musah, comissário de assuntos políticos e segurança da Cedeao, após a reunião dos chefes militares.
"O Dia D também está decidido."
- Uma operação arriscada -
A região do Sahel está enfrentando insurgências jihadistas crescentes ligadas à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico.
A frustração com a violência tem contribuído para os golpes militares.
As tropas da Cedeao têm intervindo em outras emergências desde 1990, incluindo as guerras civis na Libéria e em Serra Leoa.
Espera-se que Costa do Marfim, Benin e Nigéria contribuam com tropas para uma missão no Níger.
No entanto, os detalhes de qualquer operação no Níger ainda não foram divulgados, e analistas acreditam que a intervenção seria politicamente e militarmente arriscada, especialmente para um ator regional como a Nigéria.
Os países vizinhos governados por militares, Mali e Burkina Faso, disseram que uma intervenção no Níger seria vista como uma declaração de guerra contra eles.
A Cedeao já impôs sanções comerciais e financeiras ao Níger, enquanto França, Alemanha e Estados Unidos suspenderam seus programas de ajuda.
Também neste sábado, os Estados Unidos anunciaram que sua nova embaixadora já estava instalada em Niamei.
Trata-se de Kathleen FitzGibbon, uma diplomata de carreira com ampla experiência na África. No entanto, ela não apresentará credenciais às novas autoridades, já que Washington não as reconhece.
(H.Duplantier--LPdF)