Equador elege presidente em eleição marcada pela violência
O Equador encerrou, neste domingo (20), uma tensa jornada eleitoral para escolher o presidente e congressistas em meio a um grande desdobramento militar devido ao recente assassinato de um candidato presidencial e à violência de grupos criminosos.
Os candidatos votaram protegidos por esquemas de segurança sem precedentes, usando coletes à prova de balas e capacetes, enquanto um estado de exceção está em vigor desde o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio em 9 de agosto.
A contagem preliminar dos votos avança lentamente. Com 74% das cédulas apuradas, a vantagem é de Luisa González (33%), de 45 anos, apoiada pelo ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017) e a única candidata mulher.
Em segundo está o candidato de direita Daniel Noboa (24%), de 35 anos, filho mais novo de um magnata que buscou o poder no Equador em cinco ocasiões.
"Estamos fazendo história", disse González ao comemorar sua "grande vitória" no primeiro turno, enquanto Noboa garantiu que "a juventude" o escolheu "para ganhar do correísmo".
A autoridade eleitoral tem até 23 de setembro para anunciar os resultados definitivos, mas tudo indica que nenhum candidato terá margem suficiente para evitar um segundo turno em 15 de outubro.
O país sul-americano, outrora pacífico, tornou-se nos últimos anos um centro de operações para cartéis de drogas estrangeiros e locais que impõem um regime de terror com assassinatos, sequestros e extorsões.
"Estamos com o coração partido devido à tanta criminalidade", disse Magdalena Mejía à AFP na cidade costeira de Canuto (sudoeste).
Além da violência, há uma crise institucional que deixou o país sem um Congresso nos últimos três meses, quando o impopular presidente Guillermo Lasso (direita) decidiu dissolvê-lo e convocar eleições antecipadas para evitar um processo de impeachment por corrupção.
No fechamento da votação, a autoridade eleitoral registrou uma participação de 82% dos 13,4 milhões de equatorianos obrigados a votar, em um país com 18,3 milhões de habitantes. No exterior, houve "dificuldades" para votar por via eletrônica, segundo as autoridades.
- Os presidenciáveis -
O rosto do falecido Villavicencio, ex-jornalista centrista que ocupava o segundo lugar nas pesquisas antes de ser assassinado, aparecia nas cédulas junto com outros sete candidatos, pois já estavam impressas quando ele foi baleado por um assassino de aluguel colombiano.
Ele foi substituído na chapa pelo jornalista Christian Zurita, seu melhor amigo que também foi ameaçado e parceiro em investigações que expuseram grandes escândalos de corrupção. Uma delas levou à condenação do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017) a oito anos de prisão.
Ameaçado de morte na véspera, Zurita, 53 anos, votou usando um colete à prova de balas e capacete em Quito, rodeado por um impressionante dispositivo de segurança.
"São momentos difíceis e tenebrosos para o país", declarou após votar Zurita, que aparece em terceiro lugar (16%) na recontagem parcial dos votos.
Antes do assassinato, uma pesquisa mostrava Villavicencio atrás de González e seguido pelo ex-francoatirador e ex-paraquedista Jan Topic (direita), que aparece em quarto lugar com 15% dos votos.
A quinta colocação parcial é do ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner (direita) com 7%, seguido do líder indígena Yaku Pérez (esquerda), com 4%.
Após o assassinato, uma nova pesquisa mostrou González ainda na liderança com Topic em segundo.
- Noboa, a surpresa -
O Equador encerrou uma curta campanha eleitoral marcada pela violência política, na qual também foram assassinados um prefeito, um candidato a deputado e um líder local do correísmo.
O assassinato do candidato presidencial mudou as perspectivas da disputa eleitoral, na qual Noboa emergiu como uma surpresa neste domingo, apoiado por uma facção da direita.
Ele é filho de um dos homens mais ricos do Equador, que afirma que ele era uma criança com "vigor", um adolescente "responsável" e agora se tornou um jovem "bem-sucedido".
Segundo especialistas, sua candidatura ganhou impulso após o único debate presidencial, no qual ele apareceu com um colete à prova de balas alegando ameaças de morte.
Grupos ligados a cartéis mexicanos e colombianos competem pelo negócio de drogas e usam prisões como centros de operações, onde ocorreram massacres violentos que resultaram na morte de 430 detentos desde 2021.
A pobreza afeta 27% da população em uma economia dolarizada, e um quarto dos equatorianos trabalham informalmente ou estão desempregados.
Um histórico referendo para deter a exploração de petróleo em uma parte do parque nacional amazônico Yasuní também foi votado neste domingo, em um momento em que o mundo busca reduzir os combustíveis fósseis e combater as mudanças climáticas.
"Que planeta vamos deixar para as gerações futuras?", questionou o funcionário Luis Veloso, de 52 anos, em Quito, se opondo ao petróleo, que representa 10% do PIB do Equador.
Com 23% das cédulas do referendo apuradas, o 'Sim' para manter o petróleo sob a terra tinha 59% dos votos.
(C.Fontaine--LPdF)