Putin elogia 'contribuição' de Prigozhin na Ucrânia e promete investigar sua morte
O presidente russo, Vladimir Putin, elogiou, nesta quinta-feira (24), a "contribuição" para a ofensiva na Ucrânia do chefe do grupo Wagner, Yevgueni Prigozhin, que se rebelou contra o Kremlin no final de junho, e prometeu "levar até ao fim" a investigação sobre sua morte em um avião que caiu na quarta-feira perto de Moscou.
Prigozhin "era um homem com destino complicado, que cometeu erros graves em sua vida, mas que obteve os resultados de que precisava", declarou Putin, durante uma reunião transmitida pela televisão, oferecendo suas condolências aos familiares das vítimas do acidente.
Outras nove pessoas estavam na aeronave, entre tripulação e passageiros, nenhuma sobreviveu.
A declaração de Putin, que qualificou o ocorrido como uma "tragédia", foi a primeira confirmação oficial de que o chefe do grupo Wagner havia morrido.
O acidente ocorreu dois meses após o fracassado levante do grupo paramilitar de Prigozhin contra o Estado-Maior Russo, alimentando especulações de um possível assassinato orquestrado pelo Kremlin.
Nesta quinta-feira, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, garantiu que seu país não tem "nada a ver" com o ocorrido.
No mesmo dia, a Rússia abriu uma investigação por "violação das regras de segurança do transporte aéreo", mas não mencionou nenhuma pista em particular.
- Flores e caveiras -
Entre as supostas vítimas fatais estaria Dmitri Utkin, o braço direito de Prigozhin. O ex-oficial do serviço de inteligência militar russo era o comandante de operações do Wagner.
Algumas informações também indicam a presença no voo de Valeri Chekalov, que segundo a imprensa russa era o diretor de logística do grupo.
Na cidade de Kujenkino, perto da qual o avião caiu, um morador, Vitali, contou ter "ouvido um 'boom'". "Olhei para cima e vi um avião com fumaça branca por cima", disse em um vídeo transmitido pelo canal Fontanka.
Nas redes sociais, várias contas próximas ao grupo Wagner - que não tem endereço online oficial - mencionaram a hipótese de lançamento de um míssil terra-ar para explicar o incidente.
Algumas pessoas citaram a possibilidade de uma encenação orquestrada pelo chefe do grupo de mercenários para desaparecer, mas Margarita Simonyan, editora-chefe da RT, canal estatal ligado a Putin, não deu crédito à esta hipótese.
"Pessoalmente, me inclino pela (pista) mais evidente", comentou na plataforma X (ex-Twitter).
Na quarta-feira à noite, várias pessoas se reuniram diante da sede do grupo Wagner em São Petersburgo e depositaram cravos vermelhos, velas e símbolos do grupo, com uma caveira, na frente do prédio.
Na Ucrânia, onde o grupo paramilitar lutou por muito tempo, houve quem se alegrasse com a suposta morte.
"Talvez isto dê um impulso a acontecimentos desestabilizadores" na Rússia, disse Iryna Kushina, uma autoridade entrevistada pela AFP em Kiev.
- Dúvidas razoáveis -
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou: "Não há muita coisa que aconteça na Rússia que Putin não esteja por trás".
A ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, ironizou a causa da morte do líder paramilitar, declarando que "a taxa de mortalidade das pessoas próximas à Putin é particularmente alta".
"Não é uma coincidência que todos os olhares estejam voltados para o Kremlin quando um ex-aliado de Putin, em desgraça, cai literal e subitamente do céu dois meses após uma rebelião", disse a chefe da diplomacia da Alemanha, Annalena Baerbock.
Em 24 de junho, o chefe do grupo liderou um motim contra o Estado-Maior russo e o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, assumindo o controle de quartéis do sul da Rússia e iniciando uma marcha em direção a Moscou.
Durante a tentativa de motim em junho, que durou 24 horas, Putin não escondeu a irritação e acusou Prigozhin de "traição".
Mas a rebelião foi interrompida no mesmo dia, após um acordo que previa a viagem de Prigozhin a Belarus e a adesão dos milicianos do grupo Wagner ao exército oficial russo.
Apesar do pacto, o fundador do grupo paramilitar continuou viajando para a Rússia e chegou a visitar o Kremlin.
Na segunda-feira, Prigozhin apareceu em um vídeo divulgado por grupos próximos ao Wagner, no qual afirmou que estava na África para tornar a "Rússia ainda maior".
(F.Moulin--LPdF)