Russo é julgado por criticar o poder em declarações à imprensa
Ele criticou a ofensiva na Ucrânia em declaração à imprensa nas ruas de Moscou e agora pode pegar 10 anos de prisão. Um cidadão russo comum compareceu ao tribunal nesta quarta-feira (30) para dizer que não se arrepende de nada do que disse.
Centenas de opositores, ativistas e cidadãos russos estão sendo presos por expressarem suas opiniões contra o ataque de Moscou a Kiev, que teve início em fevereiro de 2022. Este é, no entanto, o primeiro caso conhecido em que a Justiça investiga uma pessoa por responder a perguntas da imprensa durante uma entrevista na rua.
Yuri Kokhovets respondeu espontaneamente a um pedido de entrevista da Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL) em julho de 2022, quando a emissora estava nas ruas de Moscou.
Abordado na saída de uma estação de metrô, Yuri disse que o presidente Vladimir Putin e o governo russo eram responsáveis pelo conflito. Também criticou os argumentos do Kremlin para justificar a ofensiva militar.
"O nosso governo diz que quer combater os nacionalistas (ucranianos), mas bombardeia centros comerciais", afirmou no vídeo compartilhado nas redes sociais da RFE/RL, mídia financiada pelos Estados Unidos desde a Guerra Fria.
Yuri também acusou os militares russos de terem "matado sem motivo" civis em Bucha, uma cidade perto de Kiev e palco de um massacre atribuído às forças de Moscou no início do conflito.
"Tudo isso tem que parar. Aqui está um homem que pode impedir", disse ele, fazendo referência a Putin.
O homem de 37 anos foi detido pela polícia em março e, após 48 horas de detenção, foi multado em 500 rublos (5 dólares, ou 24 reais, na cotação atual) por "vandalismo", segundo a organização OVD-Info, responsável por sua defesa.
Posteriormente, o sistema judicial reclassificou a acusação contra ele como "divulgação de informação falsa sobre as Forças Armadas russas", um crime introduzido no início do conflito e que já resultou em milhares de condenações.
Agora, Yuri Kokhovets está sujeito a uma pena de até dez anos de prisão.
- "As pessoas estão com medo" -
Após uma breve audiência nesta quarta-feira, seu julgamento foi adiado e continuará no dia 18 de setembro.
"Não me arrependo de nada. A vida é como um balanço, há altos e baixos", disse ele aos jornalistas após a audiência, insistindo em que "todos têm o direito de expressar sua opinião".
Yuri também analisou que o "destino" queria que ele respondesse às perguntas dos "jornalistas da imprensa livre" naquele dia.
"Eu contei a eles tudo o que penso. E mantenho minha opinião, nada mudou", reforçou.
O homem, que é especialista em controle de pragas, diz que quando fala sobre seu caso com seus clientes, eles dizem-lhe que é melhor não falar sobre o assunto.
"As pessoas estão com medo", afirma. "Tudo tem um começo e um fim. Neste momento, não há um futuro brilhante à vista, mas estou esperançoso", ressaltou.
Moscou reprime seus críticos há anos, um fenômeno que se acelerou com o início do conflito na Ucrânia e o relativo isolamento internacional do país devido às sanções ocidentais.
Quase todos os grandes opositores deixaram a Rússia, ou estão presos, como é o caso de Alexei Navalny, o mais conhecido deles e recentemente condenado a 19 anos de prisão.
Milhares de cidadãos comuns também foram condenados por sua oposição aos confrontos, seja em protestos, ou mesmo por mensagens publicadas nas redes sociais.
De acordo com o OVD-Info, que acompanha casos individuais, quase 20 mil pessoas foram detidas na Rússia desde fevereiro de 2022.
(R.Dupont--LPdF)