Dissidentes das Farc e governo da Colômbia se reúnem para buscar acordo de paz
Delegados do governo colombiano e dissidências da antiga guerrilha das Farc se reúnem de hoje até domingo (03) nas montanhas do sudoeste do país, "a fim de avançar para a instalação da Mesa de Negociações de Paz", informou o governo.
O encontro, no departamento do Cauca, "será fechado e confidencial", e servirá para chegar a um consenso sobre a "agenda de temas" anteriores à negociação, como "protocolos de respeito à população civil e de cessar-fogo", indicou o gabinete do Alto Comissariado para a Paz em nota. Os diálogos terão como objetivo desmobilizar o Estado-Maior Central (EMC), principal grupo dissidente das Farc, que se recusou a assinar o acordo de paz em 2016.
Vestido como civil e acompanhado por cerca de dez homens com fuzis e trajes camuflados, o negociador-chefe do EMC conhecido como Andrey Avendaño confirmou ontem o início dessa nova aproximação do governo de esquerda de Gustavo Petro.
De uma zona rural do Cauca, Avendaño condicionou as negociações a um acordo de cessar-fogo. "Não faz sentido que alguns conversem enquanto outros se enfrentam na floresta", disse. Petro, por sua vez, afirmou hoje na rede social X, antigo Twitter, que irá manter a pressão militar no Cauca: “Esta é a estratégia político-militar do atual governo."
- Paz sem trégua -
Emboras as partes já tivessem avançado em direção a um diálogo, as negociações esfriaram após acusações mútuas de ataques e violações ao acordado.
O cessar-fogo está no centro da discussão entre as partes. Nesta quinta-feira, as forças militares compartilharam imagens de um comando de soldados agitando a bandeira da Colômbia em um acampamento das dissidências das Farc no Cauca.
"Esses acampamentos estão localizados em regiões elevadas, de onde podiam detectar os movimentos das tropas; acampamentos cercados de centenas de hectares de drogas", acrescentou a instituição.
Na véspera do ano-novo, Petro anunciou um cessar-fogo bilateral de seis meses com os principais grupos, incluindo o EMC. A trégua, porém, foi suspensa em maio em quatro regiões do país por ordem do governo, após o assassinato de quatro menores indígenas por dissidentes. Desde então, o conflito se agravou em departamentos como Cauca com assassinatos e atentados com explosivos.
Com cerca de 3.500 combatentes, o EMC disputa uma sangrenta batalha com outros grupos armados pelo controle da mineração ilegal e do narcotráfico, no maior produtor de cocaína do mundo.
Rebeldes, traficantes, paramilitares e agentes estatais se enfrentam há mais de meio século em uma guerra que já deixou mais de nove milhões de vítimas.
(F.Bonnet--LPdF)