Israel enfrenta pressão internacional por riscos de incursão em Gaza
Israel se encontrava nesta quarta-feira (25) sob pressão internacional para medir os riscos de uma operação terrestre em Gaza sem garantir a proteção da população civil, atingida por bombardeios em resposta ao ataque realizado pelo Hamas no último dia 7.
A Faixa de Gaza está em uma situação humanitária crítica e seus hospitais enfrentam um "colapso total", alertaram médicos palestinos, que denunciam a falta de combustíveis e a escassez de medicamentos.
Além disso, Israel mantém esse território de 362km² e 2,4 milhões de habitantes sob um estrito bloqueio e mobilizou em frente a ele dezenas de milhares de soldados, com vistas a uma possível invasão para "aniquilar" o movimento islamista Hamas.
O grupo palestino, que governa Gaza desde 2007, lançou um ataque contra Israel em 7 de outubro. O ataque, o mais letal desde a criação do Estado israelense, em 1948, deixou mais de 1.400 mortos, segundo autoridades de Israel. Os milicianos também capturaram mais de 200 pessoas, que foram levadas a Gaza como reféns. Quatro delas foram libertadas nos últimos dias.
Segundo o Hamas, mais de 6.500 pessoas morreram nos bombardeios israelenses a Gaza. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, destacou que Israel deve fazer "tudo que for possível" para proteger os civis, embora tenha assegurado que não exigiu, em nenhum momento, que o governo Netanyahu atrasasse uma incursão.
Em visita ao Cairo, o presidente francês, Emmanuel Macron, advertiu, ao lado de seu contraparte egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, que uma operação terrestre "maciça" em Gaza seria um "erro" porque colocaria "em perigo a vida" de civis "sem proteger Israel a longo prazo".
Macron, que destaca o direito de Israel de se defender, também crê que uma invasão terrestre "será incompatível (...) com o direito internacional e, inclusive, com as leis da guerra.
Sissi também alertou que uma "invasão terrestre" a Gaza provocaria "muitas, muitas vítimas civis".
- 'Colapso total' -
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) informou que poderia ser obrigada a encerrar suas atividades em Gaza esta noite por falta de combustível. As reservas de água, eletricidade e comida também se esgotam no território.
A ONU calcula que mais de um terço dos 35 hospitais da Faixa estejam fora de serviço pelos danos sofridos nos bombardeios ou por falta de combustível.
"Os hospitais estão em um estado de colapso total", alertou Mohammed Abu Selmeya, diretor do hospital Shifa, o maior de Gaza.
"Mais de 90% dos medicamentos e produtos estão esgotados", advertiu à AFP, destacando a urgência de conseguir combustível para os geradores, importantíssimos para o funcionamento do centro de saúde.
A ajuda humanitária começou a entrar a conta-gotas em Gaza, embora não inclua o desejado combustível. Desde sábado, apenas 70 caminhões cruzaram a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Segundo a ONU, são necessários ao menos 100 por dia. Israel se nega a permitir a entrada de combustível, alegando que beneficiaria o Hamas.
Ahmad Abdul Hadi, cirurgião-ortopedista do hospital Nasser, disse à AFP que teve que operar vários feridos sem anestesia. "Não há produtos anestésicos suficientes", mas "os feridos estão sofrendo muito, por isso não podemos esperar para operá-los", explicou.
- Aumento da tensão -
O Exército de Israel informou que atingiu “várias infraestruturas terroristas” do movimento islamista nesta quarta-feira. O Hamas, por sua vez, indicou que pelo menos 700 pessoas morreram em um dia em Gaza.
O conflito provoca tensões na Cisjordânia ocupada, onde mais de cem palestinos foram mortos em operações do Exército israelense desde o início da guerra, segundo o ministério da Saúde sediado em Ramallah.
A tensão se estendeu à fronteira com o Líbano, com trocas de disparos diários entre as tropas de Israel e o movimento islamita Hezbollah. O Exército israelense informou na noite de hoje que bombardeou posições no Líbano de onde havia sido lançado pouco antes um míssil terra-ar contra um de seus drones.
Os ministros das Relações Exteriores da Turquia e do Catar, bem como a Rainha Rania da Jordânia, acusaram a comunidade internacional nesta quarta-feira de adotar um “duplo padrão” em sua reação ao conflito.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou o cancelamento de seus planos de viajar a Israel, que o criticou por ter descrito os milicianos islamitas como “libertadores que protegem sua terra”.
(O.Agard--LPdF)