Russos relembram vítimas de Stalin, apesar da repressão aos dissidentes
Os russos prestaram homenagem neste domingo (29) às vítimas do terror stalinista, mais de 20 meses após o início da ofensiva russa na Ucrânia, que foi acompanhada por uma severa repressão nacional aos críticos.
A ONG Memorial, co-vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2022, organiza anualmente a leitura dos nomes das pessoas executadas durante o Grande Expurgo, entre 1936 e 1938.
A Justiça russa ordenou a dissolução desta ONG no final de 2021, poucas semanas antes do ataque à Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.
Em Moscou, a leitura ocorre perto de um monumento às vítimas da repressão soviética, em frente à Lubyanka, a infame sede da polícia política de Stalin, do KGB soviético e agora do FSB, os serviços de segurança russos.
Neste domingo, o local estava cercado por cercas metálicas e com forte presença policial.
Oleg Orlov, responsável da Memorial recentemente multado por ter denunciado a ofensiva contra a Ucrânia, estava no local, confirmou a AFP.
A Memorial organizou uma transmissão ao vivo da leitura em Moscou. As homenagens também aconteceram em outras cidades russas, como Volgogrado (antiga Staligrado, no sul), em Novosibirsk, na Sibéria, e no exterior.
A ONG, fundada em 1989, documenta os crimes da URSS e luta pela defesa dos direitos humanos e dos presos políticos na Rússia.
O Kremlin não nega as repressões soviéticas, mas as minimiza, apresentando-as como uma tragédia sem culpados, e glorifica o poder geopolítico e militar da URSS.
Segundo historiadores russos e ocidentais, o Grande Expurgo deixou cerca de 20 milhões de mortos, incluindo execuções em massa, mortes em gulags e deportações para áreas insalubres, além da fome na Ucrânia e em várias regiões da Rússia.
(H.Duplantier--LPdF)