Hamas reporta 'intensos combates' com tropas de Israel em Gaza
O movimento islamista palestino Hamas reportou, neste domingo (29), "intensos combates" com as tropas israelenses na Faixa de Gaza, onde as Nações Unidas temem um colapso da "ordem pública" diante dos saques a seus centros de distribuição e da ajuda humanitária limitada que chega ao território, sitiado e sob intenso bombardeio.
Os apelos se multiplicam para o envio de ajuda humanitária a esta faixa de terra, onde mais de dois milhões de pessoas vivem confinadas em 362 km2. Gaza é submetida a intensos bombardeios israelenses desde o ataque lançado pelo Hamas, em 7 de outubro, que deixou 1.400 mortos, a maioria civis, e no qual 230 pessoas foram feitas reféns.
Os ataques em represália deixaram 8.000 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território, no poder do Hamas desde 2007.
Apesar dos apelos por uma trégua, Israel intensificou seus ataques aéreos e suas incursões terrestres a Gaza desde a sexta-feira.
"Nossos combatentes travam atualmente intensos combates com metralhadoras e armas anti-tanques contra as forças de ocupação inimigas no noroeste de Gaza", afirmaram, em um comunicado, as Brigadas Ezzedin al Qassam, braço armado do Hamas.
O primeiro-ministro israelense, o conservador Benjamin Netanyahu, advertiu na véspera que a guerra contra o grupo islamista - que prometeu "aniquilar" - seria "longa e difícil".
Seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, informou, por sua vez, que com as incursões por terra tinha começado uma "nova fase" da guerra.
Neste domingo, o exército israelense informou ter atingido centenas de alvos do Hamas e aumentando seus efetivos terrestres no território. Também reportou disparos de foguetes a partir de Gaza para o centro e o sul de Israel.
- Saques a centros de abastecimento da ONU -
Dezenas de milhares de pessoas protestaram, neste domingo, em Marrocos, Espanha e Grécia, pedindo um cessar-fogo em Gaza.
Na república russa do Daguestão, de maioria muçulmana, dezenas de manifestantes invadiram o aeroporto de Makhachkala, após o anúncio de que um avião procedente de Israel estava chegando.
Os distúrbios levaram o controlador aéreo russo, Rosaviatsia, a suspender todos os voos com origem e destino neste terminal. À noite (tarde no Brasil), as autoridades informaram que as forças de ordem tinham retomado o controle da situação.
A situação em Gaza se torna "cada vez mais desesperadora" à medida que as horas passam, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
A Faixa de Gaza é submetida a um bloqueio israelense terrestre, marítimo e aéreo há 16 anos, ao que se soma, desde 9 de outubro, um "assédio total" do território. Seus moradores buscam desesperadamente comida, água, remédio e refúgio.
A organização Crescente Vermelho palestino informou que Israel bombardeia reiteradamente os arredores do hospital Al-Quds, no centro de Gaza.
A Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) informou que milhares de pessoas saquearam vários de seus centros de distribuição em busca de farinha ou artigos de higiene.
"Este é um sinal preocupante de que a ordem civil está começando a desmoronar", advertiu a agência.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e o presidente francês, Emmanuel Macron, insistiram na necessidade de um "apoio humanitário urgente em Gaza", informou o gabinete do premiê, após uma conversa entre os dois dirigentes.
- Ajuda a conta-gotas -
Os habitantes de Gaza "agora temos que fazer fila para conseguir pão, tomar banho e inclusive para dormir", lamentou esta deslocada do norte de Gaza.
A ONU estima que haja cerca de 1,4 milhão de pessoas deslocadas em Gaza pelos bombardeios incessantes e as ordens de Israel de evacuar o norte do território.
Dez caminhões com ajuda humanitária entraram neste domingo a partir do Egito, aumentando a 94 o total de veículos que conseguiram entrar em Gaza desde 21 de outubro, segundo o Crescente Vermelho palestino.
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, pediu a Israel para "tomar todas as medidas possíveis (...) para distinguir entre o Hamas - os terroristas que são alvos militares legítimos - e os civis, que não são".
- Netanyahu reúne-se com parentes de reféns -
Netanyahu se reuniu no sábado com familiares dos reféns, cada vez mais descontentes com a "completa incerteza" sobre seu retorno, segundo Haim Rubinstein, seu porta-voz.
Quatro mulheres foram libertadas até o momento e o líder do grupo islamista em Gaza, Yahya Sinwar, disse estar disposto a uma troca "imediata" dos reféns em seu poder pelos presos palestinos em Israel.
As operações terrestres de Israel aumentam o temor de que o conflito se estenda e que outros países decidam intervir.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, cujo país apoia o Hamas, declarou que Israel tinha cruzado "as linhas vermelhas" ao intensificar sua ofensiva.
As tensões se multiplicam na fronteira entre Israel e Líbano, com novas trocas de tiros entre tropas israelenses e o grupo Hezbollah.
A violência também aumenta na Cisjordânia ocupada, onde o Ministério da Saúde reportou mais de 110 mortos palestinos desde 7 de outubro.
(V.Blanchet--LPdF)