ONU teme que ofensiva israelense no Líbano possa levar a conflito regional 'catastrófico'
A força de paz da ONU no Líbano (Unifil) expressou neste sábado (12) o temor de que a escalada da ofensiva de Israel contra o Hezbollah no Líbano possa levar a um conflito regional “catastrófico”, com a abertura de outra frente em Gaza, onde Israel luta contra o Hamas.
O conflito no Líbano ameaça “muito em breve se transformar em um conflito regional com consequências catastróficas para todos”, disse o porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti, à AFP. Os confrontos entre Israel e o movimento islamista libanês Hezbollah, acrescentou, causaram “muitos danos” às suas posições.
A força da ONU disse que outro capacete azul foi ferido na sexta-feira, o quinto em dois dias, perto da fronteira com Israel por tiros de uma fonte desconhecida. A Unifil acusou o Exército israelense na quinta-feira de disparos “repetidos” e “deliberados” contra suas posições.
O Exército israelense afirmou que o Hezbollah disparou cerca de 320 projéteis contra o país no meio do Yom Kippur, o dia mais sagrado do judaísmo.
Durante o feriado, que começou na noite de sexta-feira e termina ao pôr do sol no sábado, as fronteiras, os aeroportos, o transporte público e a maioria das empresas permaneceram fechados.
O Hezbollah, por sua vez, disse que atacou com mísseis uma base do Exército israelense ao sul da cidade de Haifa.
No Líbano, pelo menos nove pessoas foram mortas em Maaysra e Barja, dois vilarejos fora dos redutos pró-iranianos do Hezbollah, informou o Ministério da Saúde libanês.
O Hezbollah abriu uma frente contra Israel há um ano para apoiar seu aliado Hamas, em guerra na Faixa de Gaza com o Estado israelense após o ataque do movimento islamista palestino em 7 de outubro de 2023 em solo israelense.
Desde 23 de setembro, Israel intensificou sua campanha militar contra a milícia pró-iraniana e, uma semana depois, iniciou incursões terrestres no Líbano.
Tanto a guerra em Gaza quanto o conflito no Líbano foram acompanhados por uma escalada entre Israel e o Irã, que lançou quase 200 mísseis contra seu arqui-inimigo em 1º de outubro.
- Resposta ao Irã? -
Teerã afirma que lançou seu ataque em resposta às mortes do chefe do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, e do chefe do Hamas, Ismail Haniyeh.
O primeiro foi morto em um bombardeio israelense em 27 de setembro em Beirute, a capital libanesa. O segundo foi morto em um ataque a bomba atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã.
Após o feriado de Yom Kippur, é provável que as atenções se concentrem mais uma vez na esperada retaliação contra o Irã.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, prometeu esta semana que a resposta de seu país seria "mortal, precisa e surpreendente".
No entanto, a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, pressiona para que a resposta israelense seja "proporcional" e não empurre a região para uma guerra mais ampla.
Biden instou Israel a evitar atacar instalações nucleares ou infraestruturas energéticas iranianas.
Mais de 2.100 pessoas morreram no Líbano em um ano, mais de 1.200 delas desde a intensificação dos bombardeios há três semanas, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais.
Segundo a ONU, há quase 700 mil pessoas deslocadas dentro do Líbano e cerca de 400 mil pessoas fugiram para a Síria.
- "As crianças morrem" em Gaza -
Embora nas últimas semanas Israel tenha concentrado a maior parte das suas operações na frente libanesa, continua a bombardear a Faixa de Gaza na sua luta contra o Hamas, depois de mais de um ano de combates no território palestino.
Atualmente, o Exército israelense cerca a cidade de Jabaliya, no norte da Faixa, onde acusa o Hamas, que o governa o território, de reorganizar as suas forças.
A Defesa Civil de Gaza relatou 30 mortes na sexta-feira em uma série de bombardeios israelenses naquela cidade.
Vários corpos foram levados para o hospital Al Ahli de Gaza, de acordo com imagens da AFP. “Crianças morrem, essa criança tem apenas dois meses de idade, o que ela fez para merecer isso?”, perguntou um homem em lágrimas.
O conflito entre Israel e o Hamas eclodiu após o ataque sem precedentes de milicianos islamistas em solo israelense, em 7 de outubro de 2023, que causou a morte de 1.206 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.
Das 251 pessoas raptadas naquele dia, 97 ainda estão detidas em Gaza, 34 das quais foram declaradas mortas pelo Exército israelense.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva implacável na Faixa de Gaza, território governado pelo Hamas, onde já morreram 42.175 palestinos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, que a ONU considera confiáveis.
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(V.Castillon--LPdF)