Candidato uruguaio Ojeda se compara a Milei, mas reivindica papel do Estado
Andrés Ojeda, que abalou a disputa eleitoral no Uruguai como representante da "nova política", se comparou com o presidente argentino Javier Milei, mas reivindicou o papel do Estado, durante entrevista à AFP antes das eleições de domingo.
O candidato presidencial do histórico Partido Colorado, sócio da coalizão governante de centro-direita, indicou "pontos em comum" com Milei na forma de se comunicar diretamente com as pessoas, de entender o alcance das redes sociais e de prescindir das estruturas políticas territoriais.
"Eu uso muito isso como exemplo. Sempre digo que há uma política tradicional para a qual chegou seu Uber, e quem não subir no Uber fica no passado", disse Ojeda.
O fenômeno é regional e não tem a ver com ser de esquerda ou direita, afirmou, e mencionou não apenas Milei, mas também os dirigentes Daniel Noboa (Equador), Santiago Peña (Paraguai), Nayib Bukele (El Salvador), Gabriel Boric (Chile) e Luis Lacalle Pou (Uruguai), "todos lideranças da nova política, que em seu território e em seu tempo romperam com tudo que havia antes".
No entanto, Ojeda enfatizou que "a ruptura e a mudança não podem ser replicadas de uma sociedade à outra".
"Evidentemente, Uruguai e Argentina não são iguais. Eu não acho que poderíamos trazer um enlatado Milei 100% para cá", assinalou.
Ao contrário do mandatário ultraliberal argentino, Ojeda defendeu o papel do Estado "sobretudo em relação aos que têm menos", e citou uma frase de Lacalle Pou, a quem admira: "O Estado tem que dar apoio aos que estão mais abaixo."
Terceiro nas pesquisas de intenção de voto, este advogado criminalista de 40 anos se apresenta como o "desafiante" capaz de superar o candidato de Lacalle Pou, Álvaro Delgado, e passar ao segundo turno em novembro com o favorito Yamandú Orsi, da aliança de esquerda Frente Ampla, a maior força de oposição do país.
"Rompemos o molde do político tradicional", disse, atribuindo o crescimento constante nas pesquisas à "potência da renovação" e a "falar de todos os temas", inclusive saúde mental, bem-estar animal e meio ambiente, "que a velha política sempre classifica de superficiais".
- Mercosul, Trump, China, Israel e Venezuela -
Ojeda disse que o "Uruguai tem que crescer" e, para isso, é crucial a abertura comercial, mas descartou que a solução seja deixar o Mercosul, bloco que o país integra com Argentina, Brasil, Paraguai e Bolívia.
"No Uruguai há 1.400 empresas exportadoras, 400 vivem majoritariamente da exportação do Mercosul. Não é sério dizer que vamos sair. Isso significa que vamos nos sentar calados e deixar que tudo aconteça? Não", apontou.
O candidato garantiu que o "Uruguai tem que conseguir melhoras", e comemorou que hoje estejam no bloco Milei e o presidente Lula.
"Lula é um cara sério. A relação geopolítica do Mercosul com o Uruguai, de hoje, é uma janela interessante. Nosso maior problema se chamava Alberto Fernández", disse, sobre o antecessor de Milei, que reconheceu ter buscado frear um tratado de livre-comércio com a China.
Sobre a dicotomia entre Estados Unidos e China, Ojeda foi pragmático. "Para crescer, os grandes mercados são fundamentais. Então eu acho que a disquisição não é ideológica. É de interesse o crescimento comercial do Uruguai", disse.
Sobre a disputa pela Casa Branca entre Donald Trump e Kamala Harris, preferiu não se pronunciar "porque o Uruguai, vença quem vencer, deverá ter boas relações com os Estados Unidos".
Mas ressaltou que "Trump conseguiu se mostrar genuíno e isso tem sido um grande ativo". "Acho que o que o colocou no topo, o que o alavancou, foi sua autenticidade", opinou.
Ojeda não hesitou em classificar a Venezuela de Nicolás Maduro de "ditadura clara" e "insustentável".
"Há um presidente eleito, se chama Edmundo González", disse, e anunciou que, se vencer as eleições, o convidará para a posse, assim como a líder opositora María Corina Machado.
Também se mostrou firme em seu apoio ao direito de Israel se defender diante do "ataque terrorista" de 7 de outubro de 2023. Caso seja eleito presidente, sua "primeira missão oficial será ao Estado de Israel", frisou.
(C.Fournier--LPdF)