Ucrânia afirma que Rússia enviou soldados norte-coreanos à região de Kursk
A Ucrânia assegurou, nesta quinta-feira (24), que a Rússia enviou soldados norte-coreanos para a região fronteiriça de Kursk, parcialmente controlada por forças ucranianas, aumentando os temores das potências ocidentais de uma escalada maior na guerra.
Essas afirmações surgem após os deputados russos ratificarem, pouco antes, um tratado de defesa com a Coreia do Norte por unanimidade, com 397 votos, que prevê assistência mútua em caso de agressão armada por parte de um país terceiro.
A votação ocorreu no dia do fechamento da cúpula dos Brics em Kazan, na Rússia, grupo de nove países às vezes apresentados como do "Sul global".
O texto será examinado no dia 6 de novembro pela Câmara alta do Parlamento, o Conselho da Federação, antes de ser assinado por Putin.
"As primeiras unidades do exército norte-coreano, treinadas no leste da Rússia, já chegaram à zona de combate", indicou a inteligência militar ucraniana (GUR) em um comunicado.
"No dia 23 de outubro de 2024, foi registrada sua aparição na região de Kursk", acrescentou.
Putin não negou, nesta quinta-feira, a mobilização de tropas norte-coreanas em seu país, após os Estados Unidos assegurarem que tinham provas do envio de soldados de Pyongyang para que possivelmente participem da guerra na Ucrânia.
"A Rússia nunca duvidou que a RPDC [República Popular Democrática da Coreia] leva a sério a cooperação russa, estamos cooperando com nossos amigos norte-coreanos", declarou Putin em uma coletiva de imprensa durante a cúpula dos Brics em Kazan.
"O que faremos é assunto nosso", acrescentou.
O presidente russo também afirmou que um eventual acordo de paz com a Ucrânia, onde o exército russo controla cerca de 20% do território, deveria se basear "nas realidades" do campo de batalha.
"Estamos dispostos a considerar qualquer negociação de paz baseada nas realidades do terreno. Não estamos dispostos a aceitar nada mais", declarou Putin em uma coletiva de imprensa ao final da cúpula dos Brics em Kazan.
Nesta quinta-feira, o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, advertiu que seu país não ficará "de braços cruzados" diante do envio de tropas norte-coreanas ao território russo e se mostrou até disposto a estudar a possibilidade de fornecer armas à Ucrânia, "dependendo" das ações das forças norte-coreanas.
Por sua vez, a Coreia do Norte nega estar enviando forças para o ataque à Ucrânia, e um representante de Pyongyang na ONU falou de um "rumor sem fundamento".
- "Ilusória" perspectiva de derrota russa -
O presidente russo classificou como "ilusória" a perspectiva de uma derrota de seu país na Ucrânia, antes de sua primeira reunião com o secretário-geral da ONU, António Guterres, em mais de dois anos.
Os adversários da Rússia "não escondem seu objetivo de infligir ao nosso país uma derrota estratégica", declarou Putin durante a cúpula dos Brics na cidade russa de Kazan.
"Direi diretamente que são cálculos ilusórios que só podem ser feitos por quem não conhece a história russa", acrescentou.
O líder russo enfrentou apelos de seus aliados dos Brics para pôr fim ao conflito na Ucrânia, onde Moscou lançou uma ofensiva em fevereiro de 2022.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, se pronunciou na terça-feira a favor de um fim "pacífico" do conflito, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, também pediu que fosse encerrado.
Guterres criticou insistentemente a campanha militar russa na Ucrânia, que classifica como um "precedente perigoso" para o mundo.
O secretário-geral da ONU pediu em Kazan uma "paz justa" na Ucrânia, e um cessar-fogo "imediato" das hostilidades em Gaza e no Líbano.
Putin não tardou a reagir. "Lamentavelmente, nas famílias costuma haver disputas, escândalos, litígios por propriedade e às vezes até brigas", disse.
Ambos os líderes, que se encontrarão novamente após o encerramento da cúpula em Kazan, se reuniram pela última vez nas primeiras semanas da ofensiva, quando Guterres viajou a Moscou durante o cerco a Mariupol, no sul da Ucrânia.
A Ucrânia criticou duramente a decisão do chefe da ONU de se reunir com Putin.
O porta-voz das Nações Unidas, Farhan Haq, assegurou que o secretário-geral usaria a reunião com Putin para "reafirmar suas posições conhecidas sobre a guerra na Ucrânia".
(A.Laurent--LPdF)