Ucrânia afirma que Rússia enviou soldados norte-coreanos à província de Kursk
A Ucrânia assegurou, nesta quinta-feira (24), que a Rússia enviou soldados norte-coreanos para a província fronteiriça de Kursk, parcialmente controlada por forças ucranianas, aumentando os temores dos países do Ocidente de uma escalada maior na guerra.
Pouco antes dessas afirmações, deputados russos ratificaram, por unanimidade, um tratado de defesa com a Coreia do Norte que prevê assistência mútua em caso de agressão armada por parte de um país terceiro.
A votação coincide com o dia do encerramento da cúpula do Brics em Kazan, na Rússia, grupo de nove países às vezes apresentados como o "Sul global".
O texto será examinado no dia 6 de novembro pela Câmara alta do Parlamento, o Conselho da Federação, antes de ser assinado por Putin.
"As primeiras unidades do Exército norte-coreano, treinadas no leste da Rússia, já chegaram à zona de combate", indicou a inteligência militar ucraniana (GUR) em comunicado.
"No dia 23 de outubro de 2024, foi registrada sua aparição na província de Kursk", acrescentou.
Putin não negou, nesta quinta-feira, a mobilização de tropas norte-coreanas em seu país, após os Estados Unidos assegurarem que tinham provas do envio de soldados de Pyongyang para sua possível participação na guerra na Ucrânia.
"A Rússia nunca duvidou que a RPDC [República Popular Democrática da Coreia] leva a sério a cooperação russa, estamos cooperando com nossos amigos norte-coreanos", declarou Putin em uma coletiva de imprensa ao terminar a cúpula do Brics em Kazan.
"O que faremos é assunto nosso", acrescentou.
O presidente russo também afirmou que um eventual acordo de paz com a Ucrânia, onde o Exército russo controla cerca de 20% do território, deveria se basear "nas realidades" do campo de batalha.
"Estamos dispostos a considerar qualquer negociação de paz baseada nas realidades do terreno. Não estamos dispostos a aceitar nada mais", declarou Putin.
Nesta quinta-feira, o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, advertiu que seu país não ficará "de braços cruzados" diante do envio de tropas norte-coreanas ao território russo e se mostrou inclusive disposto a estudar a possibilidade de fornecer armas à Ucrânia, "dependendo" das ações das forças norte-coreanas.
Por sua vez, a Coreia do Norte nega estar enviando forças para o ataque à Ucrânia, e um representante seu na ONU falou de um "rumor sem fundamento".
- Reunião Putin-Guterres -
Putin não tardou a reagir. "O secretário-geral disse que todos deveríamos viver como uma grande família [...] Infelizmente, nas famílias há disputas, escândalos, disputas de propriedade e por vezes até brigas", disse.
Ambos os dirigentes haviam se reunido pela última vez nas primeiras semanas da ofensiva, quando Guterres viajou para Moscou durante o cerco de Mariupol, no sul da Ucrânia.
O secretário-geral tem criticado repetidamente insistentemente a campanha militar russa na Ucrânia, que descreve como um "precedente perigoso", mas sua decisão de se reunir com Putin foi duramente criticada por Kiev.
O porta-voz da ONU, Farhan Haq, assegurou que o secretário-geral utilizaria a reunião para "reafirmar suas posições conhecidas sobre a guerra na Ucrânia".
- 'Cálculos ilusórios' -
Antes desse encontro, o presidente russo classificou como "ilusória" a perspectiva de uma derrota de seu país na Ucrânia.
"Direi diretamente que são cálculos ilusórios que só podem ser feitos por quem não conhece a história russa", acrescentou.
O líder russo enfrentou apelos de seus aliados do Brics para pôr fim ao conflito na Ucrânia, onde Moscou lançou uma ofensiva em fevereiro de 2022.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, se pronunciou na terça-feira a favor de um fim "pacífico" do conflito, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, também pediu que a guerra fosse encerrada.
(L.Garnier--LPdF)