Geórgia fará recontagem parcial de votos após denúncias de fraude nas eleições legislativas
A Comissão Eleitoral da Geórgia anunciou, nesta terça-feira (29), que vai recontar os votos em 14% dos centros de votação, depois de a coalizão de oposição pró-europeia deste país do Cáucaso ter acusado o partido no poder de fraude.
As autoridades "recontarão os votos em cinco assembleias de voto escolhidas aleatoriamente em cada círculo eleitoral", afirmou a comissão em um comunicado publicado no seu site.
O partido Sonho Georgiano, no poder desde 2012, obteve 53,92% dos votos, segundo os resultados quase finais das eleições de sábado. A coalizão da oposição obteve 37,78% dos votos, mas rejeitou a derrota.
A presidente pró-europeia desta ex-república soviética de 4 milhões de habitantes, Salome Zourabishvili, afirmou que nas eleições foram utilizados métodos de fraude "sofisticados", semelhantes, segundo ela, aos usados na Rússia.
"É muito difícil acusar um governo", mas "a metodologia é russa", declarou a chefe de Estado, pró-Ocidente e contrária ao governo, em entrevista à AFP.
O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, rejeitou as "acusações infundadas" e negou qualquer interferência do seu país no processo eleitoral georgiano.
Tanto a UE como os Estados Unidos apelaram ao governo georgiano para investigar as denúncias de irregularidades nas eleições. Ao lado dos observadores internacionais, denunciaram "pressões" durante a votação.
O Sonho Georgiano, liderado pela bilionário Bidzina Ivanichvili, é acusado pelos seus opositores de aproximar o país da vizinha Rússia e afastá-lo da União Europeia (UE).
A adesão da Geórgia à UE e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) está inscrita na Constituição.
- Manifestações -
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, o único líder da UE que permanece próximo de Moscou, felicitou o Sonho Georgiano pela sua vitória e viajou ao país na segunda-feira para mostrar o seu apoio.
"Parabenizo-vos por votarem a favor da paz" e "por não permitirem que o vosso país se torne uma segunda Ucrânia", invadida por Moscou em fevereiro de 2022, declarou Orbán nesta terça-feira, cujo país assume a presidência semestral do bloco dos 27 Estados-membros.
A sua visita imprevista provocou a ira de Bruxelas. Orban "não representa a União Europeia", denunciou o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell.
A Geórgia mantém relações tensas com a UE nos últimos meses, especialmente depois de o Parlamento ter aprovado uma lei de "influência estrangeira" em maio, semelhante à que a Rússia utiliza para silenciar a sociedade civil.
Bruxelas congelou o processo de adesão da Geórgia à UE após a promulgação dessa lei. Washington, por sua vez, adotou sanções contra algumas autoridades pela "repressão brutal" às manifestações subsequentes.
O governo sueco também suspendeu a cooperação com as autoridades georgianas, anunciou nesta terça-feira o ministro sueco da Cooperação Internacional.
A decisão foi tomada antes das eleições e o ministro do país escandinavo, Benjamin Dousa, citou a lei sobre a influência estrangeira e o declínio dos direitos da população LGBTQIAPN+ para justificá-la.
Após os apelos da oposição e da presidente Zourabishvili na segunda-feira, dezenas de milhares de georgianos protestaram pacificamente para denunciar o resultado das eleições legislativas.
Algumas horas antes, o primeiro-ministro georgiano, Irakli Kobajidze, havia insistido que a "principal prioridade" de Tbilisi na "política externa" era a "integração europeia".
(M.LaRue--LPdF)