G20 Social, o toque popular de Lula antes da cúpula de chefes de Estado
Para evitar que apenas 20 pessoas definam “os destinos da humanidade”, movimentos sociais e ativistas se reúnem a partir desta quinta-feira (14) no Rio de Janeiro no G20 Social, uma iniciativa inédita do governo brasileiro antes da reunião de cúpula dos principais líderes mundiais.
Alheios ao ataque ocorrido na véspera em Brasília, quando um homem carregando explosivos morreu ao tentar atacar o Supremo Tribunal Federal, os participantes mostravam o caráter multicultural do evento.
Quarenta mil indígenas, agricultores, jovens moradores de favelas e estudantes desfilaram pela Praça Mauá e por seus arredores, no Centro do Rio, muitos deles vestindo camisetas e bonés com reivindicações tradicionais da esquerda.
O evento, de três dias, foi uma ideia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de incluir a sociedade civil na reunião que será realizada na segunda e na terça-feira pelos líderes das maiores economias do mundo.
O G20 são vinte pessoas "definindo os destinos da humanidade, das populações, sem a participação do povo e da população. O Lula está chamando o povo para participar desse processo”, disse Márcio Macedo, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, responsável pela coordenação do G20 Social.
O evento foi inaugurado na presença, entre outros, do chanceler Mauro Vieira, do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e da primeira-dama do país, Rosangela “Janja” da Silva. "Não poderia haver uma discussão e medidas efetivas" contra os problemas do mundo "se não houvesse um diálogo com a sociedade", disse Vieira.
A iniciativa vai até sábado com mais de 270 atividades organizadas por movimentos sociais, autoridades, universidades ou organizações internacionais sobre "lutas sociais", como os direitos da população LGBTQIAPN+, a igualdade salarial, a luta contra o racismo e um tribunal popular anti-imperialista, entre outros.
- Pelo meio ambiente e contra a guerra -
"Espero que os governantes olhem mais para a parte climática e contra a guerra", disse à AFP Neiberth Luiz, um ativista de 36 anos, de boné vermelho, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e que viajou do estado de Minas Gerais.
Estão marcadas sessões plenárias para esta sexta-feira, para discutir os três eixos propostos pelo Brasil à cúpula do G20: combate à fome, à pobreza e às desigualdades; sustentabilidade e mudança climática; e reforma da governança global.
Durante a cerimônia de encerramento, no sábado, será entregue a Lula um texto com as "demandas e aspirações" da sociedade civil. O governo brasileiro espera que o documento seja incorporado – nas questões sobre as quais há consenso – na declaração final dos líderes do G20.
"Espero que tudo seja acatado, que seja o melhor para todos. Nós precisamos de apoio, de resistência", disse a indígena potiguara Cristina Ferreira da Silva, de 51 anos.
Com um cocar de penas na cabeça, Cristina planejava participar de um evento convocado pela Central Única dos Trabalhadores do Brasil, com o objetivo de saber o que "está acontecendo no mundo".
Outro destaque do G20 popular é o Festival Cultural da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, inspirado nos grandes shows Live Aid e Free Nelson Mandela, realizados em Londres em 1985 e 1988. Apelidado de “Janjapalooza” pela imprensa, por ser promovido pela primeira-dama, o evento reunirá ícones da música brasileira, como Zeca Pagodinho, Seu Jorge, Daniela Mercury, Maria Rita e Alceu Valença.
O evento, que tem entrada franca, foi alvo de críticas por causa dos custos envolvidos na montagem e no pagamento dos artistas.
(R.Dupont--LPdF)