G20 fica longe de destravar COP29 apesar dos pedidos para conter crise climática
A cúpula do G20 no Rio de Janeiro obteve poucos avanços climáticos em sua declaração final, revelada nesta segunda-feira (18), na qual incluiu pedidos de cessar-fogo em Gaza e Líbano, e também apoiou "iniciativas" para uma paz "justa e duradoura" na Ucrânia.
As decisões dos principais líderes mundiais eram muito esperadas para tentar fazer avançar as negociações climáticas na COP29 de Baku, no Azerbaijão, paralisadas em torno do financiamento contra a crise ambiental e a transição de energias fósseis para fontes limpas.
Mas a declaração final evitou mencionar o compromisso que a comunidade internacional adotou na COP28 de abandonar progressivamente a dependência de energias fósseis, apesar do apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, para que houvesse "concessões" para salvar o planeta.
"Os líderes estão devolvendo a bola para Baku, mas o problema é que quem pode tomar as decisões [os próprios líderes] está no Rio", disse à AFP Mick Sheldrick, cofundador da ONG Global Citizen.
"Não estão à altura", não há "nem sequer uma referência do que se conseguiu na COP28", acrescentou. "Isto provavelmente vai dificultar a consecução de um acordo" em Baku.
- O peso de Trump -
Um acordo nesse sentido dos dirigentes das principais economias, que representam 85% do PIB mundial e 80% das emissões de carbono, também era esperado devido ao retorno iminente de Donald Trump à Casa Branca em janeiro.
O republicano garante que voltará a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, o que poderia prejudicar os esforços da comunidade internacional.
Apesar da vontade da presidência brasileira do G20 de tirar a guerra do foco, houve pedidos mais concretos para aliviar os conflitos na Ucrânia e entre Hamas, Hezbollah e Israel.
Sem mencionar Israel, pediram um "cessar-fogo completo" em Gaza e no Líbano "que permita aos cidadãos retornarem com segurança a seus lares em ambos os lados da Linha Azul", que delimita a fronteira entre o territórios libanês e israelense.
Também sem fazer referência à Rússia, representada no Rio pelo chanceler Sergei Lavrov, compartilharam seu apoio a iniciativas "relevantes e construtivas" para uma "paz ampla, justa e duradoura" na Ucrânia, uma mensagem muito similar a da declaração da cúpula de 2023.
O texto final chega um dia depois de o governo de Joe Biden autorizar Kiev a usar mísseis americanos de longo alcance contra alvos militares russos, uma decisão que, para o Kremlin, "põe mais lenha na fogueira".
- Apesar de Milei, Brasil conquista vitórias -
Apesar das poucas conquistas em temas-chave, o país anfitrião obteve algumas vitórias em iniciativas que são suas bandeiras: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu a adesão de 82 países para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e que o G20 se comprometesse a fazer com que os super-ricos "efetivamente" paguem impostos.
A iniciativa contra a fome busca acabar com essa "acabar com essa chaga que envergonha a humanidade", nas palavras de Lula, até 2030, assim como a pobreza e que se consiga reduzir as desigualdades.
As vitórias de Lula, no entanto, tiveram uma sombra: o presidente argentino Javier Milei, com quem mantém uma relação tensa desde antes de o político ultraliberal assumir o poder em dezembro.
Milei firmou o documento final, mas sem acompanhar temas como "a limitação da liberdade de expressão nas redes sociais" ou a "noção de que uma maior intervenção estatal é a forma de lutar contra a fome", segundo um comunicado oficial.
Os dois protagonizaram um encontro cheio de tensão. Ao se cumprimentarem, mal se entreolharam e posaram para as câmeras com semblante sério e distante, o que contrastou com as outras saudações feitas pelo anfitrião.
O argentino repostou mais tarde, nas redes sociais, um vídeo com imagens do incômodo momento com Lula, no qual aparece na sequência imagens de Milei cumprimentando efusivamente o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
(N.Lambert--LPdF)