Blue Origin leva passageiros ao espaço, incluindo astronauta de mais de 90 anos
Após um hiato de quase dois anos, a Blue Origin levou passageiros de volta ao espaço neste domingo (19), incluindo um ex-piloto da Força Aérea que teve negada a chance de ser o primeiro astronauta negro dos EUA décadas atrás.
Foi o primeiro lançamento com tripulação da empresa fundada pelo bilionário Jeff Bezos, proprietário da Amazon, desde que um acidente com um foguete em 2022 deixou a rival Virgin Galactic como a única operadora no incipiente mercado de turismo espacial.
Um total de seis pessoas a bordo decolou por volta das 09h36, horário local (11h36 em Brasília), da base do Local de Lançamento Um da empresa no estado do Texas, no sul dos EUA, na missão NS-25.
A equipe inclui Ed Dwight, um escultor negro e ex-piloto da Força Aérea que foi rejeitado pelo corpo de astronautas da agência espacial americana Nasa na década de 1960.
Dwight, com 90 anos, 8 meses e 10 dias, é a pessoa mais velha a viajar para o espaço, superando por pouco o ator da famosa série de TV espacial "Star Trek", William Shatner, que era quase dois meses mais jovem quando partiu com a Blue Origin em 2021.
"Esta é uma experiência que muda a vida de qualquer pessoa, todo mundo precisa fazer isso", disse ele após o voo. "Pensei que realmente não precisava disso em minha vida", acrescentou, refletindo sobre a recusa em entrar para o corpo de astronautas quando era jovem. "Mas eu menti", ele riu.
A missão NS-25 é o sétimo voo com tripulantes humanos da empresa fundada pelo americano Bezos.
Incluindo a missão deste domingo, a Blue Origin já enviou 37 pessoas a bordo do veículo suborbital New Shepard, um pequeno foguete reutilizável que leva o nome de Alan Shepard, o primeiro americano a chegar ao espaço.
O empresário francês Sylvain Chiron, que faz parte da equipe, disse à AFP que o que mais o entusiasmou foi "essa sensação de deixar o mundo dos homens e ver a Terra como um todo, de cima, sem fronteiras, com toda a sua fragilidade e beleza".
Bezos vê as curtas excursões no New Shepard como um trampolim para ambições maiores, incluindo o desenvolvimento de um foguete pesado completo e um módulo de pouso lunar.
- Segundo nonagenário -
O programa sofreu um revés quando um foguete New Shepard pegou fogo logo após o lançamento em 12 de setembro de 2022. A cápsula sem tripulação foi ejetada a tempo, o que significa que os astronautas estariam a salvo se tivessem voado.
Uma investigação federal revelou que a causa foi um bico de motor superaquecido. A Blue Origin tomou medidas corretivas e realizou um lançamento bem-sucedido sem tripulação em dezembro de 2023, abrindo caminho para a missão deste domingo.
Após a decolagem, a cápsula se separou do foguete propulsor, que não produz emissões de carbono. O foguete fez um pouso vertical de precisão.
Enquanto a nave ultrapassava a Linha Karman, o limite internacionalmente reconhecido do espaço a 100 quilômetros acima do nível do mar, os passageiros tiveram a oportunidade de se maravilhar com a curvatura da Terra e soltar os cintos de segurança para flutuar - ou dar cambalhotas - por alguns minutos de ausência de gavidade.
Em seguida, a cápsula entrou novamente na atmosfera e acionou seus paraquedas para aterrissar no deserto em uma nuvem de areia. No entanto, um dos três paraquedas não conseguiu inflar totalmente, possivelmente resultando em um pouso mais difícil do que o esperado.
Quando perguntado sobre isso, um porta-voz da Blue Origin enfatizou que seu sistema foi projetado com vários mecanismos de segurança. "A cápsula foi projetada para aterrissar com segurança com um único paraquedas. A missão como um todo foi um sucesso, e todos os nossos astronautas estão animados por estarem de volta", disse ele.
No total, a missão levou cerca de 11 minutos de ida e volta.
Em 2021, o próprio Bezos participou do primeiro voo tripulado do programa. Alguns meses depois, Shatner ultrapassou os limites entre ficção científica e realidade ao se tornar o astronauta mais velho da história, décadas depois de ter interpretado pela primeira vez um viajante espacial.
Dwight é o segundo nonagenário a se aventurar além da Terra.
- Finalmente, o espaço -
Os preços dos ingressos são um segredo bem guardado, mas convidados como Dwight - cuja vaga foi patrocinada pela organização sem fins lucrativos Space for Humanity - viajam de graça.
A missão de domingo finalmente dá a Dwight a oportunidade que lhe foi negada décadas atrás.
Ele era um piloto de testes de elite quando foi indicado pelo Presidente John F. Kennedy para participar de um programa altamente competitivo da Força Aérea, conhecido como o caminho para o corpo de astronautas, mas acabou não sendo escolhido.
Ele abandonou a carreira militar em 1966, citando a tensão da política racial vigente na época, antes de dedicar sua vida a contar a história dos afro-americanos por meio da escultura.
(F.Moulin--LPdF)